
Feira de Santana é uma cidade localizada no estado da Bahia e possui, segundo dados do IBGE, uma população estimada para 2025 em 660.806 habitantes, com uma área de 1.304 km² e densidade demográfica de 472,45 habitantes por quilômetro quadrado, sendo o trigésimo quinto município em população no país e ocupando a segunda posição no estado.
Em que pese seu tamanho em área e população, a cidade perdeu, nas últimas décadas, o posto de segunda colocada em tamanho do PIB para a cidade de Camaçari. Enquanto Feira de Santana tem um PIB de R$ 17,3 bilhões, Camaçari possui R$ 34,0 bilhões. Próxima a Feira vem São Francisco do Conde, com R$ 13,1 bilhões, segundo dados de 2021. Se o preço do petróleo sobe no mercado internacional, os derivados sofrem aumentos que fazem com que o PIB de São Francisco do Conde ultrapasse o da Princesa do Sertão, apesar da imensa desigualdade da cidade do Recôncavo.
Mas o que é PIB? O Produto Interno Bruto é o principal indicador utilizado para medir a atividade econômica de um país, região ou cidade. De forma técnica, o PIB corresponde ao valor monetário de todos os bens e serviços finais produzidos em um território em determinado período de tempo, geralmente um ano ou um trimestre.
Em condições normais, ninguém consome gasolina diretamente como bem final, pois ela é uma mercadoria intermediária, ou seja, serve para abastecer automóveis e, portanto, entra no cálculo do PIB como consumo das famílias. Da mesma forma, quando uma empresa utiliza gasolina para abastecer sua frota, ela aparece como insumo do custo do serviço de transporte. Descomplicando: a gasolina entra no cálculo do PIB para a refinaria, mas não entra para o pai de família que abastece seu carro, já que esse consumo já foi contabilizado anteriormente.
Um bolo entra no cálculo do PIB, mas do valor dele deve ser abatido o custo da farinha de trigo, que entra como bem final para o moinho, o qual já havia considerado o trigo adquirido dos agricultores. Assim, compensando uma etapa na outra, forma-se o PIB. Matematicamente, pode-se explicar que ele é resultado da fórmula: PIB = C + I + G + (X − M); Onde: C = consumo das famílias; I = investimentos; G = gastos do governo; X − M = exportações menos importações (saldo da balança comercial).
Em que pese ser a terceira fonte de riqueza pela ótica do PIB, Feira de Santana, infelizmente, não tem muito a comemorar, pois o indicador representa 4,9% do PIB estadual, sendo que em 2018 representava 5,13%. Enfim, a cidade perdeu protagonismo. No mesmo período, a cidade de Luís Eduardo Magalhães saiu de 2,16% para 2,5%. São Francisco do Conde passou de 3,10% para 3,71%.
O que acontece em Feira de Santana? A última grande indústria que aqui se instalou foi a Pepsico, em 2011. Desde então, o CIS (Centro Industrial do Subaé), distrito industrial municipal, vem definhando com suas vias internas precarizadas. A cidade tem, em sua localização, sua maior força de atração para investimentos, mas a precariedade do transporte coletivo público inibe potenciais investidores, assim como a baixa qualificação da mão de obra. Uma urgente requalificação do distrito industrial se impõe para que possa atrair não somente grandes empresas, mas também um meticuloso processo de projetos de relocalização, retomando áreas não exploradas e tornando-o, de fato, um distrito industrial, e não logístico, como aos poucos vem se tornando.
Existem trabalhadores qualificados, mas não em quantidade suficiente. Com uma taxa de escolarização de 6 a 14 anos de idade de 97,56%, a cidade ostenta um triste 381º lugar no estado, ficando à frente apenas de 36 municípios entre os 417 existentes.
Em 2024, existiam 80.394 matrículas no ensino fundamental. Quando se observa o ensino médio, esse número cai para 20.920 matrículas. A evasão é enorme, e isso se reflete na capacitação da mão de obra. Nenhuma grande empresa vai querer se instalar em Feira de Santana sem poder contar com potencial de recrutamento e seleção de mão de obra apta a trabalhar.
O salário médio mensal dos trabalhadores formais, em 2022, foi de 1,9 salários mínimos. Vale salientar que, em 2010, o percentual da população com rendimento nominal mensal per capita de até 1/2 salário mínimo era de 38,7%. Os feirenses moram em uma cidade desigual, que oferece poucas oportunidades a seus residentes, principalmente aos que vivem em bairros distantes do centro. Estes ficam socialmente excluídos, segregados em seus locais de moradia, sem acesso pleno à cidade para buscar melhor qualificação.
Se em tempos passados o feirense conseguia mobilidade social, saindo da pobreza e alcançando melhores condições de vida, atualmente, morando distante das melhores oportunidades, sofrendo com o péssimo transporte público e com poucas alternativas de treinamento, ele se torna menos produtivo. Com isso, a cidade começa a perder espaço na lista dos maiores PIBs municipais do estado da Bahia.
São necessárias mudanças significativas na forma de pensar e de gerir essa cidade. Não basta ficar no discurso de palanque e palestras enaltecendo o empreendedorismo. O comércio feirense já emprega menos que o setor de serviços, perdendo aos poucos sua característica de cidade comercial. A ampliação da área urbana, com a consolidação de novos espaços econômicos, aliada à precariedade dos transportes públicos, exige o fomento, pelo poder público, da implantação de pequenos negócios. Um olhar sobre os bairros do Tomba, Cidade Nova, Campo Limpo e Mangabeira nos leva a refletir sobre a importância de apoiar os pequenos e médios empreendimentos. Enfim, é preciso sair dos discursos fáceis e fazer este comércio grande novamente.
Um dos maiores exemplos de que podemos planejar o crescimento deste PIB municipal é o setor cultural. Um espetáculo artístico envolve uma cadeia produtiva de geração de empregos. Para que o artista suba no palco e sua alma cheire a talco, precisa ter palco e alguém que arme o palco, que conserte o palco. Precisa de iluminação e alguém por trás consertando, armando, desarmando. Alguém para carregar a caixa de som, apenas alguns exemplos. Em vez de apenas procurar a periferia em época eleitoral, é preciso fomentar espetáculos na periferia. Impossível achar que uma artista como Duquesa não é conhecida nesta cidade. Se você chegou até aqui e não sabe quem é Duquesa, isso apenas prova que estou correto: existem milhares de Duquesas produzindo cultura nos bairros distantes. Entretanto, o modelo cultural de Kalilandia, que prioriza apenas artistas do centro da cidade, ignora que existe verso e poesia no Aviário e no Alto do Rosário. E essa arte produz emprego e renda.
No setor agrícola, com uma área rural ainda enorme, Feira hoje não é destaque em nada. Nem o assentamento do MST produz em escala como em outros lugares. A agricultura familiar feirense é um arremedo de produção econômica, e tudo por conta da falta de fomento. Não existe crédito, e os agricultores passam o ano inteiro olhando para o céu, esperando a chuva cair de mansinho. Há potencial de pescado em Jaguara e potencial agroindustrial em Humildes e Matinha. A fábrica de polpa de frutas da Matinha respira por aparelhos. O Rio Jacuípe precisa urgentemente de despoluição para que, no mínimo, a irrigação produza efeitos positivos no PIB.
Sem essas e outras ações, Feira de Santana estará condenada, em breve, a perder o terceiro lugar em PIB municipal do estado baiano.
- Feira de Santana e o seu PIB - 01/09/2025
- Temas que demandam soluções urgentes em Feira - 04/03/2025
- Diversidade do Turismo Rural: experiências e perspectivas na Feira de Santana - 28/05/2024