
Antigamente, acompanhar o noticiário sobre o futebol era mais prazeroso. As informações eram mais precisas, as análises tinham mais qualidade e os veículos de comunicação costumavam oferecer uma visão abrangente do cenário esportivo. Jornais impressos, programas de tevês e rádio disponibilizavam um noticiário amplo, ninguém precisava ziguezaguear pelos labirintos digitais em busca de informações incertas e, muitas vezes, incorretas.
Sem os canais fechados, a transmissão de jogos pela tevê restringia-se a poucas partidas. Mas havia o rádio, que aproximava o torcedor dos seus times de futebol. À época, a Bahia era reconhecida pela qualidade dos seus cronistas esportivos. Narradores, repórteres e comentaristas traduziam o clima do jogo para quem acompanhava à distância, ouvido colado no aparelho de rádio.
Lembro da elegância e da sobriedade de Armando Oliveira, o melhor comentarista esportivo da Bahia. Ouvi-lo despertava a imaginação, sua voz transportava o ouvinte para as arquibancadas. Na Feira de Santana ouvi muito também Valdomiro Silva e Zadir Marques Porto, dois dos excelentes profissionais do rádio esportivo feirense.
“Mas por quê essas recordações?”, indagará alguém. É que, para quem viveu outras épocas, é sofrido acompanhar a cobertura esportiva hoje. Nem tanto pelo que os times apresentam em campo, mas mais pela abordagem de parte da imprensa. Estatísticas, estatísticas e mais estatísticas atordoam o desarvorado torcedor. Para quê tanto número? Talvez para induzir às apostas.
Com a bola rolando no futebol, chovem clichês. Como relatar – com detalhes – como os técnicos estão se comportando à beira do campo. Estão agitados, apáticos, indiferentes, nervosos, esbravejando, xingando? Repórteres observam isso, mas ignoram o que dizem, como orientam seus times, o que se passa em campo…
É desanimador. Sei que, na selva digital, é necessário permanecer à tona, amealhando curtidas e visualizações. Como tudo se molda, hoje, ao senso comum, ignora-se o conteúdo e mergulha-se – termo novo! – na “lacração”. É o que viabiliza muitos canais nas plataformas e que vem sendo absorvido pelos veículos tradicionais de comunicação, sem muita reflexão.
Encerrando, é necessário mencionar a histeria que, hoje, perpassa todas as dimensões da vida. Começou pela política, misturou-se à religião, à economia, enfim, a toda a vida em sociedade. Obviamente, chegou também ao esporte, com comentaristas iracundos e seus textos definitivos nas mídias sociais. Mas é melhor parar por aqui, antes que o texto comece a parecer demais com um destes comentários…