Foi uma das mais famosas e primeiras sociólogas do país, Maria Isaura Pereira de Queiroz, que em um estudo sobre o Cangaço nordestino apontou Lucas da Feira como o precursor, em 1828, deste tipo de banditismo que se estendeu pelo Nordeste até o século passado.
Esse enquadramento de Lucas Evangelista na tipologia do ‘Cangaceiro’ desfocou o olhar dos pesquisadores e analistas modernos do aspecto ‘quilombola’ na vida do escravo fugido da fazenda ‘Saco do Limão’ e suas estripulias entre o Sertão e o Recôncavo baianos durante cerca de 40 anos.
Os indícios de que diversas comunidades de escravos fugidos da região, os quilombos, eram custeados pelos ‘roubos’ de Lucas e seu bando estão na oralidade popular, no reconhecimento oficial dessas comunidades, como o distrito de Matinha, assim como em insinuações feitas por escritores e pesquisadores mais recentes e até no próprio livro ‘Lucas, o Demônio Negro’, o mais antigo e pródigo na descrição de fatos do escravo fugido.
Mas Lucas nunca conseguiu o status de quilombola. E por isso é uma figura praticamente não aproveitada nem reconhecida como símbolo de um tempo ou momento histórico de Feira de Santana.
Essa falta de reconhecimento da figura histórica desse peso é uma das razões da falta de identidade que se aponta em determinadas épocas na cidade de Feira.
Cidade formada basicamente ‘por estrangeiros’, principalmente muitos sertanejos aqui chegados ‘do Norte’ sem nenhuma identidade com a cultura afrodescendente, absorvem e reproduzem a rejeição e ódio a Lucas da Feira, externadas pelos seus contemporâneos que o torturaram, enforcaram e retalharam o corpo em partes distribuídas pela cidade.
Mesmo agora, com a valorização da ‘história dos vencidos’, criação de cotas, exaltação da estética e culturas afrodescendentes, Lucas da Feira continua à margem na cidade onde nasceu, viveu e foi trucidado.