por Dagoberto Freitas*
O professor Teomar Soledade no seu texto sobre cotas (publicado aqui no Blog da Feira) usa como base argumentos que não são adequados para o debate sobre o tema.
As Políticas de Cotas estão inseridas dentro de um contexto de Políticas Afirmativas com o objetivo de reparar desigualdades e de criar condições de igualdade.
Meritocracia só pode ser estabelecida quando todos possuem condições iguais. Quando há diferenças, primeiro é necessário estabelecer a igualdade, dar condições iguais de partida para todos os envolvidos no processo. Depois disso podemos então falar em meritocracia. Fora disso o argumento se torna falacioso.
Uma imagem ilustrativa que demonstra o que é dar condições de igualdade e frequentemente compartilhada nas redes sociais mostra três pessoas de alturas diferentes atrás de um muro tentando assistir uma partida de futebol. Para que todos possam assistir o jogo é dada a cada um uma caixa de alturas diferentes, que os coloquem com visão acima do muro. Isso é dar condições de igualdade.
Vamos pensar no caso da fórmula 1. Se houvesse uma cota para corredores, essa cota só daria ao piloto cotista a possibilidade de entrar no carro de fórmula 1 e não de ganhar a corrida. Ou seja, ambos foram colocados em condições de igualdade e agora sim podemos falar em mérito. Ganhará a corrida aquele que tiver mais méritos ou habilidade no caso.
No caso das universidades, local em que as cotas são comumente questionadas, o vestibular ou o ENEM é só uma porta de entrada. As cotas colocam todos os estudantes, independente da escola em que estudou, em condições de igualdade na entrada e estabelece assim a igualdade. Agora podemos falar em mérito novamente já que todos estão em condições de igualdade.
O mérito pode ser avaliado a partir do desempenho dos estudantes e dos seus resultados ao longo do seu curso na universidade. Há diferenças nos desempenhos entre os estudantes cotistas e não cotistas? Estudos mostram que não há. Não há diferença porque todos agora estão em condições iguais de aprendizagem.
As cotas não são uma política de trazer igualdade usada unicamente no Brasil. As universidades americanas possuem um sistema de cotas para americanos e não americanos oriundo de países em desenvolvimento. Estudantes brasileiros costumam ter acesso a essas universidades através dessas cotas.
Curiosamente, uma boa parte deles são oriundos de escolas particulares e de elevado padrão acadêmico e não necessariamente de escolas públicas. O Helyos é um exemplo de escola que tem estudantes nos Estados Unidos através dessas cotas.
Dagoberto S Freitas é doutor em Física, professor universitário, membro do grupo ‘UEFS de Todos” pelo qual foi candidato a Reitor da Universidade Estadual de Feira de Santana.
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