Quando o livro do pesquisador norte-americano Rollie Poppino completou 50 anos (2018), um texto aqui no Blog da Feira registrou o aniversário dando destaque ao esquecimento, ou falta de prestígio público, do escritor que fez o mais importante trabalho científico sobre o município de Feira de Santana até os dias de hoje.
Não posso me queixar de que a queixa não fez efeito. Fez sim. Não do tamanho do merecimento de Poppino, mas o governo municipal, dias depois colocou o nome do escritor em rua de um bairro….
Hoje no Dia Mundial do Livro, em confinamento e com pouco assunto para divergir do Covid19, resgatei e copidesquei aquele texto para marcar a data:
Feira de Santana foi publicado em 1968, dezoito anos depois da pesquisa que realizou nesta cidade,o livro “Feira de Santana” é um clássico até hoje insuperável, fonte essencial para o conhecimento historiográfico da região.
“Não existia historiografia feirense antes de Poppino. Ele é um marco“, diz o professor Bel Pires que faz referências a ele na sua tese de doutorado em História.
Quando Rollie Poppino veio à Feira o prefeito da cidade era Almachio Alves Boaventura que lhe facilitou os trabalhos nos arquivos da cidade.
“O tabelião do Cartório do 1° Ofício era Walter Livramento Silva, meu pai, que empenhou-se para que o pesquisador pudesse desenvolver seu trabalho nos arquivos públicos e nos contatos com as pessoas que queria entrevistar, como fontes primárias, do seu trabalho científico“, conta o jornalista e pesquisador Wilson Mário da Silva.
Com a pesquisa, Poppino escreveu a dissertação do seu doutorado em 1953, na Universidade de Stanford.Depois de receber seu doutorado trabalhou no Departamento de Estado dos Estados Unidos como analista latino-americano de inteligência.
Em 1961 a Universidade Davis, na Califórnia, o contratou para ensinar História da América Latina, onde permaneceu até a morte, aos 88 anos, em dezembro de 2010.
“Era conhecido por amigos e familiares por seu senso de humor irônico, discreto e caloroso, que manteve até o fim, mesmo quando lutou contra a demência“, diz um perfil dele publicado pela universidade californiana.
Não se conhecem detalhes sobre sua estadia em Feira de Santana. É certo que manteve contato com figuras exponenciais da cidade naquela época, como os agropecuaristas e políticos Eduardo Fróes da Mota, Arnold Silva e outros mas os registros desses contatos são ainda desconhecidos.
O fato de ter trabalhado em Washington, a serviço do governo dos EUA num período de intenso antiamericanismo no Brasil deve ter contribuído para esse ”descuido’ da cidade para com seu maior historiador.
“Criou-se a suspeita de que Poppino também fosse agente do governo dos EUA mapeando a região“, relata o jornalista Everaldo Góes que, como assessor de Comunicação da Universidade Estadual de Feira de Santana, tentou,em vão, convencer a Reitoria da UEFS a trazer o historiador à cidade, dois anos antes de sua morte.
“Os pesquisadores não merecem a atenção dos que fazem Feira. Lamentável!”, queixa-se o jornalista Wilson Mário.
Esquecido na cidade e na UEFS, Poppino é, porém, ”cultuado” no Museu Pedagógico da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, em Vitória da Conquista, onde existe um grupo que estuda a obra do brazilianista.
“Nem uma cidadania feirense…Podiam botar o nome dele no ‘chinódromo’: Shopping Popular Rollie Poppino”, diz, irônico, o jornalista André Pomponet, referindo-se à polêmica construção no Centro de Abastecimento de Feira, o espaço sucedâneo da antiga feira-livre de Feira que tanto encantou o pesquisador.
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