A crise chegou primeiro como sanitária e depois como econômica, mas ambas estão inseridas num contexto de uma crise maior, a crise social e suas profundas desigualdades refletidas tanto local como nacional. Os mais pobres, antes tão invisíveis começam a ser vistos (sic), já era estranho ver economistas ultraliberais como Armínio Fraga apontar a necessidade de uma renda mínima básica, mas o silencio dos nem tão inocentes se fazia presente. Começamos em 2014 e em 2020 com a Covid-19 continuamos uma crise dantesca. Sim o inferno é aqui, e não adianta chorar, talvez adiante, chorar faz bem, acabou chorare, a benção Moraes Moreira.
Deixando versos de lado, pois vocês leitores não podem ser penalizados com a minha desafinação poética, avancemos sobre os impactos das crises acima sobre a Economia Feirense.
A Princesa do Sertão não tem um setor de turismo tão forte, aliás inexiste essa palavra aqui, em que pese o seu potencial econômico, temos um setor de artesanato reconhecido mundialmente, e que já vinha definhando após as investidas mal sucedidas de se fazer uma reforma de meia sola no Mercado de Arte Popular, o MAP, e a retirada dos tradicionais Artesãos do Centro de Abastecimento, para se construir um ‘elefante paraplégico’ chamado primeiro de shopping popular, que continuamos chamando de shopping pra pular fora, e agora tentam chamar de cidade das compras (as iniciais minúsculas foram propositais). Enfim, este setor sempre foi negligenciado pelos poderes de decisão, e olha que outras cidades conseguem contemplar o turismo, aqui nem ônibus de turismo estacionou no MAP, em que pese ter vaga garantida, corrijo, nenhum ônibus de turismo.
Pobre cidade que em que o principal atrativo turístico é um amontoado de lojas de produtos sem aparente comprovação fiscal, o Feiraguai.
Além do Turismo, outro setor bastante atingido pela Covid-19 é o de eventos. Formaturas, casamentos, aniversários, entre outros, foram cancelados e em alguns casos se pediu devolução. Recepcionistas, fotógrafos, músicos, seguranças estão em dificuldades. Bares e Restaurantes sofrem e serão os últimos a serem reabertos, se ainda existirem e em decorrência da crise nestes setores. Depois vem o setor imobiliário de alugueis que já vinha definhando, agora passa a sofrer a sua maior crise. Por exemplo, a maior parte dos estabelecimentos de lazer da Rua São Domingos são imóveis alugados e já sofre com a falta de pagamentos, as lojas do shopping ameaçam demissões em massa, enfim a crise que já se fazia presente, começa a fazer estragos. E a pergunta inevitável? O que fazer?
Os defensores do livre mercado deveriam agora apontar como a mão invisível poderia resolver o problema. Eu sempre fiz uma brincadeira com os meninos liberais, mas nunca esperava que minha ironia se travestisse de verdade, a solução do mercado sempre é pelo descarte dos mais fragilizados e precarizados, aí eu não coloco apenas a classe trabalhadora no bojo, mas toda gama de pequenos empresários que acreditam que seu investimento de Capital é suficiente para ser a mola mestra da economia, que o trabalhador tem em seu salário o símbolo de sua escravidão. Ledo engano, se para o Trabalho, a Economia para e a empresa quebra, ele vai biscate, vende cachorro quente, vende pasteis, faz uber, ifood e se vira nos trinta. Se o inverso ocorrer e a empresa quebrar, os trabalhadores podem assumir as rédeas de seu destino e produzir além de sua sobrevivência e aí sim o Estado poderá ser abolido, pois as relações de produção serão comunitárias. Tudo isso para dizer ao pequeno empresário e a nós trabalhadores, precisamos estar juntos, exigirmos juntos que a economia não retroceda, que a solução passe longe do aumento de tributação, pois retira renda disponível da economia:
YD = Y – T onde,
YD= renda disponível; Y= Renda Bruta e T= Tributação
Qualquer incremento na carga tributária retira renda disponível da Economia, e a mesma não se recupera, ou seja, significa dar laxante para quem sofre de diarreia. Isso numa economia que a maioria da arrecadação tributária é em cima da produção e comercialização de bens e serviços o dano será enorme e, novamente, precisamos estar juntos e pensar como nação, como cidade, a tal da polis.
O setor de transportes já aponta com grande demissão, o que a meu parco entender significa uma chantagem com o município, aliás operadores de transporte público nos últimos anos se especializaram em chantagear o poder regulador, senão vejamos, a tarifa em Feira de Santana, está dimensionada e contratada para rodar cerca 2,5 milhões de quilômetros por mês e o decreto de redução da frota, não veio acompanhado da redução da tarifa, e olha que o calculo original parte de uma média de passageiros por quilometro de menos de 2 passageiros. Você que anda de ônibus em Feira, já encontrou um ônibus com menos de 2 passageiros por quilometro? Então o choro não é livre e sim mera chantagem.
O setor de saúde com a redução de consultas e exames, aqui sim, experimenta uma crise enorme e já começa pelo receio das pessoas de entrar em elevador, a maioria dos consultórios são em edifícios e a galera morre de medo de apertar o botão e correr o risco de contaminação, se alguém espirrar num espaço deste (em outro também), o pânico se instala.
Outros setores também estão sendo atingidos, uns mais e outros menos, mas como fazer?
O momento é de mostrar a cara para quem tem farinha no saco. Quem tiver ideias inteligentes e criativas vai ganhar. Hoje eu fui ali na Conceição buscar uma máscara com a estampa de Bob Marley, sim o coroa aqui curte reggae, não sei porque o susto, o reggae está por essas bandas há décadas e vem aí o 11 de maio, soube do produto por um colega numa rede social. Mas empresas têxteis do parque de confecções feirense podem e devem começar a produzir roupas hospitalares por exemplo, o mercado demanda e prefeituras e governos estaduais estão comprando. Indústria de limpeza começam a produzir e envasar álcool em gel, fabricas de sabão experimentam um incremento na demanda, e assim cada setor pode se moldar, não sei porque ainda os grandes supermercados não implantaram as câmaras de desinfecção, elas deverão ser realidade em grandes espaços como hospitais e Escolas.
O que não pode é reclamar do fechamento da rua pela prefeitura, pois cliente quando quer comprar, ele já sai de casa determinado e precisamos que alguns comerciantes deixem de disfarçar sua incompetência para atividade econômica colocando a culpa no vírus, como antes o plano Collor foi culpado pelas falências nos anos 90. Ambos tiveram e tem sua parcela de culpa, mas não se pode creditar toda tragédia ao coronavirus.