Sempre fui péssima em trabalhos manuais. Quando estudante no ensino médio, volta e meia a professora de Artes, a estimada “Paquinha” – quem lembra? – me alfinetava por não fazer direito uma bainha aberta, pregar um botão, fazer um bordado em ponto cruz ou ponto cheio.
Minha mãe era excelente em costura e bordado, pena que eu não soube aproveitar. Preferia bater perna até a loja Pires, casa comercial que era um verdadeiro magazine. Ali tinha um pouco de tudo, tecidos, utilidades domésticas, roupa de cama e banho… e muito mais. Já a loja Caldas, na avenida Getúlio Vargas, além desses produtos, também oferecia toda uma linha de higiene e beleza como o rouge (hoje blush), batons, esmaltes para as unhas, perfumes e cremes, itens indispensáveis na necessaire de toda mulher.
Hoje, nesse isolamento forçado, quando nos sobra muito tempo em casa, sinto falta de fazer um crochê, um tricô, alguma costura ou bordado. A inspiração me chega das postagens de amigas prendadas, exibindo peças decorativas e de utilidade doméstica, como toalhas de prato e tapete para cozinha, além de máscaras, é claro. Quanto a mim, só sei mesmo escrevinhar essas linhas.
A verdade é que tem muita gente se virando nessa quarentena, fazendo coisas impensáveis, como tonalizar e cortar o próprio cabelo. Agora, com o decreto governamental que considera serviços essenciais (?) os salões de beleza, academias e barbearias, nem é mais preciso tanto esforço para melhorar a aparência, fica por conta dos profissionais.
Limpar a casa já não é mais um serviço tão estafante. Sem a ajuda das diligentes domésticas, que também estão ficando em casa como precaução ao coronavírus, a vassoura elétrica é uma aliada. Que o diga a minha nora, que tirou a dela do armário e num instante tem o piso limpinho. Há também aquelas que estão optando pelo robô para varrer o chão! Uma novidade dos tempos modernos. Só precisa ter grana, porque o tal aparelho custa os olhos da cara.
No mais só resta a certeza de que os novos tempos exigirão de todas as pessoas novas habilidades. Quem sabe eu não aprenda a fazer flores? Costurar uma máscara, fazer um bolo, ainda que seja 0% lactose, já que ainda tenho que enfrentar essa restrição. Mas não reclamo. Afinal, comer sem glúten e sem lactose está super na moda e, antes de tudo, é saudável.
Enquanto isso, permaneço em casa quietinha, mesmo porque faço parte do grupo de risco e prezo muito a minha vida. Os livros são meus companheiros de sempre e agora as lives também. No WhatsApp ouço os poemas declamados por Faní, espalhando beleza nesses dias difíceis. Da varanda de casa vejo a rua quase deserta, os outdoors e a quadra de esportes vazia, nesse finalzinho de tarde de um domingo qualquer. Vida que segue na esperança de que não demora muito e tudo isso vai passar.
Feira de Santana, 19 de maio de 2020
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