Não faz muito tempo reencontrei Noca do Acordeon. E me redimi do preconceito dos tempos de adolescente mossoroense quando refuguei seu som de sucesso, que na época era estimulado pelas rádios e gravadoras poderosas. Eu era um moço de classe média, um bosta de classe média.
Noca é um baiano de Jequié, que a indústria fonográfica nunca mais teve interesse em revigorá-lo, como fez com outras figuras completamente desqualificadas mas adequadas ao gosto da média do povo brasileiro, um povinho escroto sem qualificação e metido a retado.
Por isso Noca morreu e não ressuscitou como muitos da música nacional. Morreu em Jequié, e em Jequié ficou. Não foi baiano bom, bom baiano, baiano nota dez.
Não foi bossa nova, tropicalista, ou qualquer coisa assim. Nem axé. Simplesmente desapareceu. Não apareceu na Globo, não foi regravado por Caetano, não foi biografado pelos literatos de plantão.
Mas sua música ficou.
Ficou com os sanfoneiros do povo, os virtuosos, alguns oportunistas, mas ficou. Mesmo que não saibam seu nome, que não saibam a autoria, mesmo que não o louvem como deviam, mesmo que sequer lembrem e falem quem é aquele negro dos dedos mágicos, mas está ali sua música. Na sanfona de Chico Justino, de Baio do Acordeon, de Geraldo de Mundo Novo, e de muitos talentos do forró nordestino. É um consolo, mas não é o reconhecimento que ele merece.
Jequié nem liga pra ele. A Bahia nem se lembra. Mas “o coração de artista” continua palpitando em toda sanfona que se preza e se respeita.
Adauto Pereira Mattos, Noca do Acordeon. É pra você que lhe dedico esse simples texto. Amém.
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