O fusca bege com faróis ‘fafá de belém’ ainda acesos estacionou defronte à Telebahia. O motorista desceu, atravessou a rua e entrou na telefônica. Nesse tempo, a J.J. Seabra era mão dupla e por ela podia-se ganhar a Presidente Dutra para pegar lá adiante a BR-324, destino dos viajantes desse carro que acaba de chegar a Feira de Santana numa manhã tão fria como essas deste mês de agosto. Na loja de discos e fitas cassetes, Roberto Carlos canta em altos decibéis virados para a rua, “por isso essa força estranha, no ar…” e um jornaleiro passa gritando as manchetes do jornal Feira Hoje. (Feche o pano).
Quando Jurivaldo Alves foi expulso com seus cordéis da sombra de um oiti da praça, deixou a pedra vermelha que ainda hoje dormita no tronco da árvore sob cuja sombra formava-se o ponto de encontro de poetas, compradores e populares, amantes ou não, da poesia popular. A banca de cordel atentava contra a boa organização do centro da cidade, impedia a liberdade de ir e vir dos pedestres e praticava o crime hediondo de privatizar o espaço público. Jurivaldo chorou, os poetas bradaram, os populares resmungaram, e a imprensa…nem quis saber disso. O ordenamento está acima de tudo e de todos. Quem pode dizer o contrário diante de argumentos tão lógicos para a lógica de uma cidade que se quer moderna? Mas, como não há mal que não traga um bem, diz o ditado, alguém sugeriu a instalação da banca no Mercado de Arte Popular e hoje Jurivaldo relembra dizendo, como na fábula da raposa e as uvas, que foi melhor, pelo menos aqui eu não me molho quando chove….(Feche o pano).
O asfalto, diz qualquer manual sério de engenharia, é uma merda para um país tropical como o nosso. Mas desde a pavimentação da estrada Rio-Petrópolis, no início do século passado, que ele significa progresso e modernidade e não há mais quem ouse sequer mencionar isso. Aliás, há poucos dias, o prefeito Colbert Martins Filho, com certeza desprevenidamente, soltou essa asneira ao falar sobre a buraqueira que atormenta e deixa indignados os cidadãos de bem desta cidade Princesa, lembrando da eficiência dos paralelepípedos para esse fim. Mas no outro dia anunciou a compra de uma porção volumosa do derivado de petróleo, que ninguém é besta de ir contra o poderoso senso comum, principalmente nos dias de hoje quando ele é institucionalizado como a forma mais cloroquina de pensar e agir. Em terra de sapos, de cócoras com eles...diz velho ditado. (Feche o pano).
Quando o marketing do pastor presbiteriano Josué Melo, “candidato de ACM” a Prefeito de Feira, desenrolou em pleno estúdio da rádio Subaé, um papiro de cheques sem fundos forçando a renúncia do candidato a vice de José Falcão, o ex-prefeito foi pressionado a colocar no lugar um engenheiro, evangélico. Falcão lambeu os beiços, desembrulhou mais uma bala de mel, e ponderou ao interlocutor mais atilado: meu filho, nós estamos numa guerra santa católica contra o pastor, se eu botar um evangélico eu perco a eleição. Quem ganhou o lugar foi Clailton Mascarenhas, cunhado de padre, e ele ganhou a Prefeitura pela terceira vez. (Feche o pano).
E o que significam o gafanhoto, a borboleta e o carrinho de aipim com batata? Respondo: apenas um título ou, como queira, apenas a óbvia legenda das fotos escolhidas ao acaso para ilustrar esse texto ou essa crônica, como queira. Todas, com certeza, são fotos feirenses.
- Comércio de escravos na Feira de Santana - 28/09/2024
- Pequenas histórias da escravidão na Feira de Santana - 26/09/2024
- O samba da feira-livre - 20/09/2024