A barraca de Dó Falcatrua vai renascer como a fênix em um box no shopping popular nos próximos dias, foi o que garantiu a proprietária aos seus fregueses, sem que ninguém fizesse muita fé, um dia antes de retirar freezers e mercadorias e ela fosse guinchada pelos operários a serviço da Prefeitura de Feira de Santana nesta quinta-feira, 8 de outubro. Hoje pela imprensa um secretário avaliou que existiam mais de 100 barracas nessa rua de Feira de Santana.
A barraca de Dó Falcatrua ficava em uma das ‘penínsulas’ das calçadas da Marechal, mais precisamente entre as entradas para os becos da Energia e Mocó. Era uma barraca estratégica sob todos os pontos de vista e deduções, comerciais ou pessoais.
Final de tarde na Marechal é hora de fechar o cesto, embalar mercadoria, vê o ganho e o desganho. O happy hour em Dó era certo. Gengibre manso descendo na garganta, tira gosto de passarinha com bem pimenta e uma cerva bem gelada pra lavar não se encontrava melhor na Maré.
Vendedores de frutas, verduras, empregadas das lojas, ambulantes, camelô, as meninas das barracas da frente, a doida da matriz, o pessoal da cebola, motoristas das distribuidoras, gerente, dono de carrinho-de-mão, guardador de carro, a empregada doméstica no Sim, pessoal da sales barbosa, o jornalista Everaldo Góes, o produtor cultural Marcelo Silva, o grafiteiro Charles Mendes, o PM aposentado, , o artista Márcio Punk, o economista Roberto Carneiro, Wilson Mário, Antonio Rosevaldo, Ovídio Amaral, o jornalista André Pomponet, o vendedor de flanela filho de uma puta que morreu no Beco da Energia, a travesti que casou com o americano, o vendedor de meia cego de um olho, outro parecido com Caculé, um avião do Aviário, o comerciante do mercado de arte, um cambista de jogo de bicho com uma perna amputada, o ambulante do carro de rodas…todos esses passaram pela barraca de Dó.
Se houvesse lua, saudava-se a lua, brindava-se o frio de agosto, se fosse o caso, anunciava-se até o bando anunciador…
Adeus Maré, muito de ti gostei, tomei cerveja gelada, vendi côco e amendoim, comprei caju pra cachaça e comida pra soim . Metido a poeta ruim, o cearense vendedor de rede fez esse ‘pé quebrado’ quando soube que era iminente o fim da Marechal e da barraca vermelha. Foi o que restou.
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