
Nesse tempo Eliel de Paiva era mais radialista que publicitário. Portanto faz muito tempo. Ainda eram os paralelepípedos, não o asfalto, que nos ouviam gritar, alto, às gargalhadas, o nome abreviado do garçom Veridiano, Verí, esse ííííííí, repetido à exaustão das cordas vocais, ecoando entre as mesas do Bar do Zequinha, irritante, repetitivo, correndo as galerias, espalhando-se com o vento entre as folhas da alameda do eterno canteiro central da Getúlio…onde floram em setembro os flamboyants de um tio de Eliel, o poeta Dival Pitombo…
– Veríííííííííí´….. – ele já sabia, era mais uma cerveja para a mesa….Verííí, um tira-gosto, mais um copo….
Madalena de Jesus, dia desses, falou no professor José Luiz Navarro a propósito de quê eu já não me lembro mais, tanta coisa se conversou nesse dia, por telefone. Agora fazendo esse texto e me lembrando daquele cenário do Bar de Zequinha, o vejo sentado em uma daquelas mesas, acompanhado da namorada, mulher, solene mas afável. Provável que estivesse por lá em um desses dias de exageros, ele mesmo afeito a esse clima de bar, discursivo e professoral, o sangue lhe subindo, soletrando frases, elevando o tom, o rosto crispado que relaxava em um sorriso largo e olhos miúdos.
– Veríííííííííí…..
O médico Antônio Fernandes tinha a veia intelectual bem afirmada e elevava a eloquência em longas falas sobre a gastroenterologia, a cultura, a cidade, a política, a medicina, a publicação que sua clínica fazia sob os cuidados do jornalista Egberto Costa, a picanha e o queijo coalho de Zequinha…se deixasse…

foto de André Lacerda: “Giltão, exercendo a Liturgia do Cargo, e dando Boas Vindas à Janio Rego”/Facebook
E Giltão? Gilton Maranhão? Hiii, não havia Veríííí na mesa dele e se havia o volume era baixo e o som breve sob os olhos arregalados de censura que ele nos punha.
Veridiano não se incomodava com a impertinência. Caboclo do Pará, abaianado nos olhos d’água da Feira, é manso e jeitoso, embora aquele ‘marketing’ lhe desse uma sobrecarga maior porque as mesas começavam a demandar pelo nome mais insistentemente gritado, bradado em eco e contravoz, algo de tenor e até soprano, Verííííííí !!!!…. Veridiano levava numa boa o estardalhaço.
Até que um dia alguém não gostou…
“A história progride quando ocorre a transição do velho para o novo, e regride quando o velho opõe resistência ao nascimento do novo”. (Norberto Bobbio, em ‘Tempo da Memória’)
fotos de André Lacerda: 1)João, Júlio e Veridiano…! 2)”Giltão, exercendo a Liturgia do Cargo, e dando Boas Vindas à Janio Rego”/Facebook
Em Tempo: Veridiano, Eliel e Madalena estão vivos assim como os outros garçons da foto.