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Eu não sou contra a corrupção. Quem quiser que seja! Aliás essa ideia de corrupção é um luxo. Coisa de classe média. De senhora católica que reza o terço contra o comunismo. De gente carola. Da UDN. De um moralismo bem comportado. Herança do Jânio, com sua vassourinha e do Collor, caçando marajá.
Fica bem na boca de uma songamonga como Tábata ou de menino branco de escola particular de Feira, indo pra as ruas com faixa ”desculpe a bagunça, estamos consertando o pais”. Tava nada! Tava era sendo massa de manobra pra jogar a gente nesse atoleiro sem fim.
Corrupção pra mim é o capitalismo, com rico comprando ilha e pobre vivendo com menos de 400 reais.
Por isso acho a ideia de honestidade tão simplória, tão binária, tão vazia. Já pensou um escravo honesto, que não fugisse porque a propriedade do dono ( ele mesmo) merecesse respeito?
Por isso, que eu tenho horror a pobre que acha carteira de rico, devolve e passa na televisão falando sobre ser honesto. Bobeira! Gosto de pobre que sabota o trabalho, que faz corpo mole, finge doença, sacaneia a coisa por dentro. Como tem que ser.
Pode reparar: sempre o discurso contra a corrupção foi usado pra atacar setores tidos como progressistas, seja o trabalhismo de Jango nos anos 60 ou o lulismo hoje.
Me afastei dos protestos de 2013 quando vi que tinham sido tomados por uma galera que lê a política pela lente da moral e empunhava bandeira contra a corrupção. Também não tou defendendo a ideia simplória do rouba mas faz, do Adhemar de Barros et caterva. Não é sobre isso. É que não tem projeto nenhum nessa generalidade: sou contra a corrupção.
Sim, alguém se diz a favor?
Você pode ser contra a autonomia do banco central, contra a agenda de privatizações, contra o latifúndio. Contra a corrupção é uma coisa anódina. Não fede nem cheira. Não é política. É outra coisa. Ou coisa nenhuma.
Também não vou ser cretino e dizer: “mas a corrupção existe desde o início da colonização, é parte da alma brasileira”. Primeiro que é um puta essencialismo. Depois, porque é cretino isso. O racismo, o latifúndio, a violência contra a mulher devem ser tolerados porque estão nas origens do país também? Não dá, né?
Como qualquer governo, os governos petistas foram marcados pela corrupção, sim. Mas a seletividade midiática jogou o país nos braços da extrema direita assim: martelando todo santo dia essa colagem que associou PT e corrupção. Deu em Bolsonaro, honestíssimo, com a república dos laranjais e todo o resto. O resto, principalmente.
Por isso, tomo um cuidado danado quando o pessoal começa a falar de forma virtuosa, moralizante, religiosa até, sobre A CORRUPÇÃO, como uma entidade descarnada, espécie de mal espiritual, pairando sobre o país.
Corrupção é ver bilionário como Luiza Trajano incensada no altar do mérito ou banco ampliando a taxa de lucro em cima do caos gerado na pandemia.
O mais, é conversa pra vender jornal e atacar partido de esquerda.
Mudando de assunto….
E a vacina, hein?
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