Existem dois Colbert Martins em Feira de Santana. Um que dialoga, ouve, e amplia a percepção sobre a vida política e social do Município e outro que fecha-se em si mesmo, tal qual caramujo, protegido por uma espessa concha que lhe dá sobrevivência mas lhe tira os movimentos mais espontâneos.
Não, não se trata aqui da eterna (e injusta) comparação entre o pai e o filho, Colberzão e Colberzinho, diferenças já de sobra analisadas e atestadas pelo senso comum e por quem conheceu aquele e este. Não é nada disso.
Trata-se aqui da dualidade de estilo que habita o próprio Colbert Martins Filho: o Parlamentar e o Prefeito.
Como parlamentar Colbert destacou-se na Assembleia e depois na Câmara Federal como um político afeito à articulação e interlocução, transitando com habilidade entre opiniões e posições divergentes na busca de consensos que são, na verdade, os objetivos da “boa política”.
O Colbert parlamentar auscultava os reclamos e aspirações populares (mesmo sem o populismo extravagante do pai) para assim conduzir seu mandato na melhor direção representativa. Por isso foi um dos melhores representantes que Feira já teve (não para a baixa política…).
Na Prefeitura de Feira, aquele Colbert parlamentar desapareceu, sumiu, tomou doril.
Num primeiro momento, como vice, era compreensível a sua apatia, ou melhor, a sua extrema discrição política. Sem conversas, sem auscultação, parado dentro da concha que o acolheu não apenas para salvá-lo do ostracismo mas principalmente para engrossar a carapaça que ameaçava se quebrar de tão velha que já estava.
Mesmo nos dois anos substituindo o prefeito renunciante, a estratégia caramujo se aplicava.
Mas eleito, de fato, Prefeito, esperava-se que fosse ressurgir aquele Colbert parlamentar, que conversava (formal e informalmente) com a imprensa sobre os temas mais diversos, que buscava ouvir os intelectuais, os antigos e novos amigos, e se alimentar de teses e ideias novas para aplicar essas vivências no Poder Executivo.
Ou seja, esperava-se, quem o conhecia, que ele viesse a exercitar a boa política que já havia praticado como parlamentar.
Alguém pode interferir nessa reflexão argumentando com aquele velho jargão: é a liturgia do cargo… Ou mesmo com a desconfiança de que isso significaria uma ruptura com o líder do grupo no qual se reelegeu. Nada disso.
A boa liturgia é aquela que incorpora elementos novos sem no entanto romper com a tradição, ao contrário, a fortalece com novo brilho para atrair novos adeptos.
Traduzindo para a administração pública, significaria modernizar, abrir novas fronteiras de pensamento e ações, melhorando assim a vida da comunidade a que ela se destina. Em suma e no popular, sair da mesmice, mudar a filosofia, arejar.
Mas Colbert preferiu continuar encapsulado. Fechado, cada vez mais distante das outras realidades, mergulhado na bolha administrativa, utilizando a mesma concha carcomida pelo tempo e pelos erros.
Daí resultam suas dificuldades com os vereadores a quem acena com diálogos que não se configuram, a sua baixa popularidade e a permanência (para não dizer aprofundamento) de problemas urbanos e públicos (saúde, educação, planejamento, etc) cujas soluções não se conseguirá seguindo a mesma cartilha e com os mesmos professores de 20 anos atrás.
Feira de Santana está precisando na Prefeitura, urgentemente, daquele Colbert deputado.
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Espero que ele leia este artigo.