A aproximação entre os setores fundamentalistas do protestantismo neopentecostal e as atualizações perversas do Antigo Testamento opera refuncionalizando o discurso bélico como plataforma simbólica de definição do mundo.
Em dez anos, mesmo quem não tem orientação religiosa protestante passou a assimilar esse ideário. E não por acaso, parte considerável desde repertório brota do militarismo hebraico antigo revisitado. ” Vitória”, ” Inimigo”, ” Combate”, “Exército”, ” Derrota”, “Vencedor”, “Queda”, “Guerreiro” e “Triunfar” são apenas algumas das expressões que compõem o ideário, religioso ou não, da maioria dos relatos cotidianos das pessoas comuns, dentro e fora das redes sociais. Todas as metáforas (e metonímias) recuperam um ideário militar e belicoso, cada vez mais distante das noções de “Amor”, “Misericórdia”, “Solidariedade” ou “Compaixão” que comporiam, em tese, a narrativa cristã. Quando essa interpretação belicosa do mundo e das relações humanas se encontra com o individualismo triunfalista que informa a Teologia da Prosperidade, o resultado é uma cruzada cultural contra os pobres, os vulneráveis, os hipossuficientes, os deserdados e excluídos em geral.
A juventude preta das periferias, os defensores de direitos humanos, as sexualidades não normativas, os religiosos de matriz africana, os povos indígenas brasileiros, os pobres e “fracassados” em geral figuram nesta cosmovisão como os heteus, filisteus, cananeus e amorreus figuravam para os hebreus do Antigo Testamento: precisam ser removidos para que triunfe a glória do Senhor. Dos Exércitos, claro!
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