“E segunda-feira, vai lá?” Fui, nunca mais tinha ido, Luizinho de Ipuaçu nas oito baixos, caixa de som nova, som limpo e claro, instrumento afinado, repertório sincopado tem até hino de futebol e o de Georgina no jeito do forró e do samba chiado na sanfona; como os passos e o gingado de mestre Paraná no pandeiro, acompanha as sambistas de ocasião que entram na roda, ou Romão do Bonfim que faz graça com o triângulo, no vai-e-vem do tinido, o zabumbeiro é novo mas bate certo, hoje tem pouco pandeiro na troça e já já chega um tambor de não sei de onde, com gente dos distritos que se encontra ali na praça: Jaiba, Matinha, Humildes, das Itapororocas… dos quatro cantos. É ponto de encontro. Quase todos se conhecem ou fazem-de-conta.
A praça é grande e de muitos quiosques. Até Bié e Santinha alugaram um desses, por uns meses antes da pandemia chegar. Não deram sorte. Santinha ia continuar o comércio lá de baixo, de onde foi convidada a sair, do Pau da Miséria, o último galpão do Centro de Abastecimento, o Centro se amesquinha desde que nasceu, coitado, e coitada dessa praça também, olhada como coisa bruta. O poder público não consegue entender essa praça. Nem o shopping popular quer saber dela, ela ali defronte àquele palácio que o mineiro construiu com beneplácitos mil desta cidade!!
Mas o diabo é que a feira não morre. Parece até que aumenta quando tentam desconstruir. Os místicos chamam isso de magia da solidariedade. Veja o caso das estátuas dessa praça do Tropeiro, pense você, foram revitalizadas por um artista anônimo que passou por aqui pela cidade e encantou-se com as esculturas da burra madrinha de tropa e o tropeiro olhando para os caminhos das mercadorias. Elas são de cimento e ferro, ele foi armou a tenda e as restaurou, foi embora, não disse nada. Se não me engano, o publicitário Vivaldo Lima, em silêncio e pacto, fez o registro dessa caridade sem holofotes. Já a Prefeitura investiu foi num teatro de arena! sim, um teatro-de-arena, totalmente construído, diria a publicidade, com o mais moderno cimento portland fabricado no Rio Grande do Norte com o calcário da Chapada do Apodi, mas os sanitários…ah, os sanitários… esses continuam improváveis e salvam-se da bexiga cheia as que procuram o anel de ônibus estacionado no entorno da praça.
Coitada dessa praça, mas Viva o Samba de Luizinho! Perto dele, o músico Zé de Alice continua sentado, paciente, olhando sereno o samba que se agita mais à medida que o sol se põe, as cabeças giram e uma violinha ponteia samba-de-roda. Viva o samba de Luizinho!
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