Resta só uma palmeira imperial na Praça Froes da Motta. Antigamente eram várias – pelo menos cinco ou seis – e podiam ser vistas de diversos pontos da cidade, enfileiradas, simétricas. Afinal, a praça localiza-se num promontório suave, visível à distância. As palmeiras, então, destacavam-se sobre os oitis e sobre o casario baixo. Suas copas balançavam, graciosas, impulsionadas pelo vento.
Mas todas foram morrendo e resta uma única, que ninguém sabe quanto tempo vai durar. Por enquanto está firme, o tronco suavemente curvado junto à copa, a uns vinte metros de altura. A folhagem permanece pujante, protagonizando um contraste vívido com o azul impecável do céu desta primavera tórrida.
Em volta restam dois troncos, tristes, escuros, feitos símbolos fúnebres. Apodrecem, curvam-se e, em breve, imagino que serão removidos. Por enquanto, ainda são visíveis à distância, nas manhãs e tardes ensolaradas. Contracenam melancolicamente com a árvore que teima em sobreviver.
Na Feira de Santana de casario térreo de outros tempos, era divertido localizar as palmeiras imperiais, imponentes, destacando-se sobre as construções atarracadas do centro da cidade. Mas tudo foi mudando: as construções espicharam-se, ganharam diversos pavimentos, escondendo as árvores; e as palmeiras imperiais, por fim, foram fenecendo.
Antes das palmeiras, foi-se embora a vivacidade que alimentava a Froes da Motta. Ali era pouso de viajantes, pensões, pensionatos e hotéis baratos abrigavam uma fauna que emprestava vida às cercanias. Tudo bem que restam os pontos de embarque para Ipirá e Capim Grosso, mas o movimento declinou. Quando o comércio fecha e a noite cai, a desolação é mortificadora.
Essas observações, feitas a esmo, foram amontoadas numa manhã de domingo. Não sei exatamente a razão, mas as manhãs de domingo são favoráveis a essas observações. Talvez seja a atmosfera mais amena no centro comercial, pois é quando a cidade expira, exausta, refazendo-se da lufa-lufa mercantil.
O fato é que resta uma única palmeira imperial na Froes da Motta. Quem conheceu a praça noutros tempos não deixa de experimentar uma tristeza que se mistura à nostalgia vendo a árvore balançar, solitária, ao sabor do vento.
- Bahia entre os primeiros da Série A após 23 anos - 09/12/2024
- Manifesto por mais decoração natalina - 25/11/2024
- A melindrosa tarefa de escrever - 19/11/2024
Não é só as palmeiras , mas na maioria das árvores nos bairros da nossa cidade são eliminadas pela população e pasmem pela prefeitura de nossa cidade. É só dá uma circulada pela cidade.