Quando ficou sozinha na praça, ao retirarem a outra para cavar um poço d’água, ela começou o namoro com esse prédio vagabundo, vazio, mas cheio de histórias pra contar, ela mais velha um pouco, mas os dois da mesma altura, saboreando o vento da Serra de São José que sopra acima dos humanos correndo feito formigas de um lado pra outro. Quando o sopro era mais forte, ela contorcia-se tanto que aproximava-se dele e dava para sentir o cheiro do mofo dos armários, gavetas e corredores silenciosos nas suas entranhas. Uma vez ela viu um rato assustado com os trovões em cima de um armário de metal entulhado de papéis. Riram juntos depois que passou a trovoada. Outubro passado ela acordou com o barulho aos seus pés e uma sensação de desequilíbrio nunca sentida, ela tão fixa, imune a ventos, será que vão cavar outro poço? e olhou pela última vez o seu concreto amor.
p.s: o edifício entrou em depressão após o corte da Palmeira Imperial e há quem note algumas rachaduras no seu cérebro provocadas pela solidão e o vazio.
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