Quarenta candidatos a vereador em Feira têm o sobrenome “de Jesus” e 93 “dos Santos”

A heroína do 2 de Julho, a baiana de Feira de Santana, chamava-se Maria Quitéria de Jesus. Mas não é diretamente por causa dela, embora talvez alguns sejam seus descendentes, que 40 candidatos e candidatas a vereador este ano na Feira, dos 410 registrados, carreguem o mesmo sobrenome da soldada nascida em São José das Itapororocas. Na verdade, Jesus é um nome comum não só na língua portuguesa como no mundo hispânico. No Brasil, aparece nos registros de nascimento desde o século 16 e há estimativas de que está nas certidões de mais de 200 mil pessoas espalhadas por todo o território. Na Bahia, além de aparecer no sobrenome não é raro estar no nome próprio: um exemplo bem conhecido  é  Jesus Sangalo, irmão da famosa cantora Ivete Sangalo.

Já “dos Santos” é tido como o segundo sobrenome mais comum tanto no Brasil como em Portugal. Calcula-se que mais de  700 mil brasileiros são fulano de tal “dos Santos”. Não chega, portanto, a ser surpresa que 93 candidatos e candidatas o tenham no registro.

Ambos – “de Jesus” e “dos Santos” – também aparecem associados a outro nome que carrega a marca do cristianismo católico: “Bispo“. Em Feira de Santana, no bairro do Limoeiro (ex-povoado do distrito de Humildes) a família Bispo é perceptivelmente numerosa em registros de trabalhadores de empresas/indústrias  instaladas na região.

Diferente de nomes como Pastor, Pastora, Apóstolo, Irmã e Irmão que estão nos registros de 18 candidaturas a vereador em Feira mas para identificá-los como membros de igrejas evangélicas, geralmente pentecostais  (as fichas de candidatura do TSE não perguntam sobre a religião professada)  o “de Jesus”, “dos Santos” e “Bispo” são sobrenomes reais, incluídos nas certidões de nascimento fornecidas ao Tribunal. A maioria são pessoas negras e pardas. Há pouco Jesus, Santos e Bispos brancos.

Foto-Ilustração: “Jesus Cristo” (1963), obra do pintor feirense Raimundo de Oliveira (1930-1966)