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Antônio de Lajedinho
sábado, 2 de novembro de 2024 / Publicado em Cidade, Colunistas, Home

‘Já Morreu’ quase foi enterrado vivo no Cemitério Piedade

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No limiar do século XX, o Cemitério Piedade, sob a administração da Santa Casa de Misericórdia, era o único na cidade de Feira de Santana. Apesar de pequeno, era suficiente para abrigar o pouco número de féretros de então, e ainda se dar ao luxo de discriminar os indigentes e pagãos.

A largura da fachada era a mesma que a atual, mas a medida da frente ao fundo era de um terço, aproximadamente, do que é hoje. A parte de campas perpétuas terminava ao lado da capela, onde havia um ossuário em forma de Iglu onde eram jogados os ossos de indigentes e daqueles que pagavam somente o aluguel de dois anos.
O ossuário era chamado de “vira mundo“. Não sei se aquele nome foi atribuído pelo formato do globo terrestre ou se referia aos pobres que estavam discriminados.
Quem não era nem rico nem pobre, o que chamamos de classe média, tinha ainda a opção das carneiras (gavetas nas laterais internas). Mais abaixo da capela, vinha a parte onde eram alugadas as sepulturas por dois anos e, dividido no fundo por uma cerca, a parte exclusiva  a indigentes e leprosos.
Ainda dentro daquele cercado, havia uma pequena parte separada para enterrar mortos que não fossem católicos, então considerados pagãos.
Não existiam velórios públicos e cada morto era velado em sua própria casa. Também não existiam carros funerários e o féretro, no esquife, era carregado por amigos e parentes de casa ao cemitério, com passagem pela igreja.
Os sinos badalavam com o toque especial de finados desde o momento que o enterro saía de casa até a chegada à igreja. Para quem era rico, celebrava-se a missa de corpo presente na própria Igreja. Para quem não podia arcar com as despesas, a demora era pouca.
Na época em que houve a peste bubônica, nenhuma vítima da doença tinha o direito de entrar na Igreja, e o sepultamento era feito na parte dos leprosos.
No local para os não católicos, enterravam-se sempre os ciganos, e vítimas de suicídio.
Havia aqui em Feira um mendigo, bêbado, que certa vez sentiu-se mal, desmaiou e foi levado para a Santa Casa de Misericórdia. Lá, um médico constatou que o paciente estava morto. Na verdade ele tinha sofrido um ataque de catalepsia e o médico não identificou.
Era costume da época, a Santa Casa emprestar um caixão para levar os féretros de indigentes até a sepultura onde o corpo era depositado e o caixão devolvido. Assim fizeram para levar o bêbado até o cemitério.
Mas quando chegaram ao caminho o defunto mexeu-se com violência e os carregadores soltaram o caixão que se espatifou no chão, saindo então, atônito, o mendigo. Vendo-se sozinho, saído do caixão, resmungou:
– “Teja onde tiver, é um bom lugar, porque aqui tem bodega.” Assim, partiu para a bodega próxima. Como o dono refugiou-se com medo do morto, ele serviu-se à vontade da cachaça existente. Conheci-o nos idos de 32, velho, com o apelido de “Já morreu”.
Foto:Arquivo/BF
Antônio de Lajedinho foi  escritor, memorialista e poeta. Ex-combatente, serviu à Marinha do Brasil, onde ingressou em janeiro de 1942. Faleceu em 2021 aos 95 anos.

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