
Moçambique, um país com vastos recursos naturais e um potencial de desenvolvimento imenso, vive uma realidade política marcada pela corrupção e pelo nepotismo. A acusação mais grave contra o partido no poder, a Frelimo, é que ela se transformou em uma máquina de enriquecimento pessoal para seus membros e aliados, negligenciando as necessidades da população e comprometendo o futuro do país.
O que denomino de “política do bolso” é uma estratégia que define as prioridades do partido: garantir que os membros do partido, suas famílias e aliados acumulem riquezas e poder, enquanto a maioria da população continua a viver em condições de pobreza extrema. A corrupção, que deveria ser um problema a ser combatido, se tornou uma prática institucionalizada e enraizada no sistema político, sendo considerada por muitos como uma norma, e não uma exceção.
Mano Azagaia já tinha alertado que não se pode esperar que eles combatam a corrupção sendo eles os próprios corruptos. Nesse contexto, o povo moçambicano se vê cada vez mais à margem do desenvolvimento, sem acesso a serviços básicos e fundamentais, enquanto as elites políticas e econômicas seguem sendo as grandes beneficiárias da riqueza do país.
A corrupção em Moçambique não é um fenômeno isolado, mas sim uma prática sistêmica, enraizada nas estruturas do poder. A Frelimo, que se mantém no governo desde a independência, tem utilizado os mecanismos estatais para garantir vantagens econômicas a seus membros e aliados, criando um círculo vicioso de enriquecimento ilícito. Esse sistema de corrupção institucionalizada se reflete em uma série de escândalos públicos, nos quais políticos de alto escalão são envolvidos em práticas fraudulentas, sem que haja punições reais. A falta de punição fortalece a impunidade, fazendo com que esses escândalos se tornem parte do cotidiano político do país, e não exceções.
Enquanto isso, a população enfrenta uma realidade devastadora: a falta de serviços públicos essenciais, como educação de qualidade, saúde e infraestrutura básica. O sistema educacional, por exemplo, é precário, com escolas sem recursos adequados, professores mal pagos e sem as condições mínimas para garantir um ensino de qualidade.
A saúde pública também sofre com a falta de hospitais e unidades de saúde bem equipadas, e os que existem são insuficientes para atender à demanda da população. Além disso, a infraestrutura básica, como estradas, transporte público e acesso à água potável, é totalmente deficiente, o que agrava ainda mais a situação de vulnerabilidade da população.
A política do bolso da Frelimo tem como consequência direta a desigualdade social, em que um pequeno grupo de pessoas, ligado ao partido e ao governo, acumula riqueza, enquanto a maioria do povo vive em condições de extrema pobreza. O governo, longe de apresentar soluções eficazes para os problemas da população, prefere investir em projetos que beneficiam diretamente as elites políticas e empresariais, deixando de lado as necessidades urgentes da população. A falta de investimentos em áreas essenciais como saúde, educação e infraestrutura é um reflexo claro da prioridade dada ao enriquecimento das elites em detrimento das necessidades do povo.
Além disso, a ideologia que antes pregava o “sacrifício pelo bem da pátria” foi abandonada em favor de um culto à riqueza e ao poder. O governo, que deveria ser um agente de transformação social e econômica, passou a ser um instrumento de perpetuação das desigualdades. A promessa de desenvolvimento e melhoria das condições de vida do povo foi substituída por uma realidade em que a pobreza é ignorada, e os governantes se mantêm impunes, sem enfrentar as consequências de seus atos corruptos. O sistema político de Moçambique, portanto, não só falha em atender às necessidades da população, como também contribui ativamente para a manutenção de um status quo que beneficia apenas uma minoria privilegiada.
Por fim, o cenário político e social de Moçambique é resultado de uma política que prioriza o enriquecimento de uma elite política em detrimento do bem-estar do povo. A corrupção sistêmica e o nepotismo têm sido os principais motores do sistema político, criando um ciclo vicioso no qual os recursos do país são desviados em benefício de poucos, enquanto a grande maioria da população continua a sofrer com a falta de acesso a serviços básicos.
No entanto, para que Moçambique possa alcançar um futuro de prosperidade e justiça social, é essencial que haja uma mudança radical no sistema político. A Frelimo precisa ser desafiada a enfrentar a corrupção e a adotar uma agenda de governança que beneficie efetivamente a população.
O fortalecimento das instituições democráticas, a promoção da transparência e da responsabilidade, bem como o combate à impunidade, são passos cruciais para reconstruir a confiança do povo nas instituições e garantir um futuro melhor para todos. Somente por meio de uma verdadeira transformação política será possível romper com o ciclo de corrupção e desigualdade que tem marcado a história recente de Moçambique, e construir uma sociedade mais justa e igualitária para as futuras gerações.
Imagem: Metical Moçambicano/Agência de Informação de Moçambique
Como é bom ler a produção tão rica de um colega! Parabéns Manu-Manu pelos textos que tem deixado para gente. Através eles, podemos mergulhar um pouquinho na realidade moçambicana, principalmente no que diz respeito a questão política e social.
Parabéns!
Muito obrigado, Maria Maria. Agradeço pela leitura, apreço e comentário. Isso fortalece a causa. Bons momentos e povo no poder ✊🏾. Sigamos e coloquemos as ideias e pensamentos em debate.