
Show gospel, show de sertanejo, show de forró, show de pagode. Torneios de tênis, de handebol, de frescobol, de futevôlei. Aqui ou ali, a pintura de uma quadra de esportes, de um posto de saúde, de uma casa de farinha. Mais raramente, a construção de cisternas, a limpeza de uma aguada, um trator novo para uma associação comunitária amiga.
É por esse ralo infindável que escoam os recursos que o Governo Federal dispõe para, em tese, realizar investimentos estratégicos. Donos de um quinhão gigantesco do orçamento, os deputados federais e senadores só perdem eleição se foram incorrigíveis vacilões. Sobra dinheiro para as obras paroquiais nos redutos eleitorais.
A desgraça se aprofundou a partir do desgoverno de Jair Bolsonaro, o “mito”. Com a ascensão de Lula quase nada mudou: minoria no Legislativo, o petê não faz frente à força do “centrão”, nem à oposição extremista. Aliás, não falta petista que se regale – silenciosamente – com tanto dinheiro à disposição para se manter no poder.
Aos poucos, os casos de corrupção estão vindo à tona. Não é coisa pouca: milhões desviados mediante esquemas estruturados, num modelo de crime pra lá de organizado. Por enquanto, inerte, o brasileiro assiste aos escândalos passivamente. Noutros tempos já haveria indignação, veementes reclamações. Mas, hoje, não. Muito eleitor tem bandido de estimação na política, é triste constatar.
Engraçado foi o discurso usado para convencer os papalvos sobre a necessidade dessas emendas. Ladinos estufaram o peito para gritar que “a burocracia do serviço público não foi eleita” e, por isso, não lhe cabe definir destinação de recursos via planejamento.
Eles – os representantes eleitos pelo povo – é que conversam com o povo, que conhecem as demandas, que podem destinar corretamente os recursos. Não sei se muita gente acreditou, mas o fato é que a falácia foi pouco contraditada. O resultado – como é fácil imaginar – só podia ser esse aí: obras paroquiais, corrupção, fortalecimento do status quo parlamentar e problemas crônicos que se avolumam, sem solução.
Aqui na Feira de Santana, por exemplo, fala-se em melhorias em rodovias, ferrovia Feira-Salvador, conexão da Feira de Santana a uma moderna ferrovia Centro-Atlântica e por aí vai. De onde vai sair dinheiro para isso tudo? Das emendas parlamentares? Todo mundo sabe que não. Às vezes, todos esses projetos cheiram a conversa inútil, como se mostram todas as que aconteceram nas últimas décadas…
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