
Existem milhões de empreendedores no Brasil. Heterogêneo em sua composição, o grupo é diverso em necessidades, demandas e aspirações. Nos últimos anos, passaram a ser cortejados pela classe política, dado o impressionante volume de votos que representam. Mas, em função de sua mencionada heterogeneidade, sua atuação atomizada e suas vozes difusas no debate político, permanecem, em muitos aspectos, não ouvidos e não atendidos.
A extrema-direita usou-os para chegar ao poder no fim da década passada. O discurso do excesso de impostos, do excesso de burocracia e de regulamentação acabou fisgando-os. O problema é que, no poder, os extremistas pouco se mexeram por esta gente. Trocaram-nos pelos militares, pela elite empresarial, pelos latifundiários e pela casta encastelada nos parlamentos.
O avanço da extrema-direita sobre este público se deveu, sobretudo, à absoluta incapacidade da esquerda tradicional de dialogar com os empreendedores. Há décadas no poder, o petismo e seus satélites ainda se movem sob a velha dicotomia entre patrão e empregado, comum no começo dos anos 1980. Natural, era o que havia à época. Mas o mundo e o Brasil, em grande medida, mudaram.
Se mudou para melhor ou não, é discussão de valor, controversa. Dispensável para quem está no perrengue aqui e agora. Na prática, o cenário é de empregos e postos de trabalho de baixa qualidade, com muita gente à margem, sem perspectivas. O que fazer, então? Capacitar-se num desses cursos e tentar sobreviver sustentando a própria guia.
“Ah, não é o ideal”. Efetivamente, não. Sobretudo sob o prisma de quem pretende tocar uma revolução social, viável apenas no longo prazo. Mas isso é coisa de partidos revolucionários. Os governos podem até projetar horizontes de longo prazo, mas precisam atuar de imediato, propondo soluções, atenuando problemas. É o que pouco se vê em relação ao empreendedorismo.
Sabe-se que, no Brasil, o cenário ficou mais funesto após a contrarreforma trabalhista tocada por Michel Temer, o “mandatário de Tietê”. Os direitos e salários minguaram, as jornadas e obrigações se alongaram. Muita gente refuta estes postos de trabalho – mesmo os formais! – que envolvem salários aviltantes e uma folga por semana. Repelindo isto, vão se aventurar como empreendedores.
É justamente este contexto que exige governo. Enredado em sua visão arcaica, o petismo no poder não consegue construir uma agenda baseada nesta nova realidade do mercado de trabalho. Daí o distanciamento que não se estreitou, mesmo com todas as promessas de Lula no período eleitoral. Atenta, a extrema-direita permanece majoritária junto a este segmento, mesmo com seu discurso vazio.
Ano que vem haverá eleições presidenciais. Lula – desde já pré-candidato à reeleição – terá a oportunidade de renovar o discurso e, quem sabe, de fato formular num novo governo políticas para esta população. Imagino que os adversários – salvo alguma novidade – sustentarão o discurso de pouco imposto e pouca burocracia. Assim, o risco de, até o fim da década, não se verificarem políticas efetivas é muito grande.
Mas a conclusão do raciocínio fica para outrob Papo sobre empreendedorismo no próximo texto.
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