
Quem conhece um pouco que seja da história de Lucas da Feira ouviu falar de Cazumbá, o compadre da mais famosa e singular figura histórica de Feira de Santana, o negro que rompeu a escravidão na fazenda do padre e foi ser bandoleiro pelas estradas e arredores de Feira e Recôncavo da Bahia. Não existem documentos históricos ligando esse amigo e delator de Lucas a essa localidade encravada no Centro Industrial do Subaé, quase nos limites do município de São Gonçalo dos Campos. Mas é quase inevitável fazer essa associação. A pesquisadora Maria Cristina Machado de Carvalho, em seu livro sobre “A família Cazumbá, em São Gonçalo”, faz referência ao lugar, citando-o como inspiração inicial que a levou a pesquisar sobre os Cazumbá, uma família que tem origem na época escravocrata em São Gonçalo dos Campos. A professora fez um levantamento minucioso, refazendo percursos de vidas de pessoas dessa família desde a primeira alforria. Mas não há evidências documentais que comprovem ser o lugar um dos quilombos auxiliados por Lucas da Feira e seu compadre Cazumbá, embora haja, entre alguns moradores, uma narrativa oral sobre a origem antiga do lugar, nesse sentido quilombola.
Quando entramos na larga avenida que dá acesso à estreita entrada de São João do Cazumbá, o líder quilombola, músico e sambador,Guda da Quixabeira, me confessou que não conhecia o lugar, tinha vindo, uma vez, somente até aquele gargalo de rua apertada entre o muro de uma indústria e casas e bares no outro lado, que, depois dessa avenida, desemboca numa descida de onde se vê a panorâmica do lugar, com sua capelinha amarela, casas simples com cadeiras na calçada, a nascente d’água na margem direita e uma visão de um verde vegetal exuberante e ainda denso. E silêncio.
O bisneto de João Pucino abriu a igreja para nos mostrar o estado de deterioração por dentro. Há rachaduras preocupantes nos cantos das paredes, embora o telhado não apresente avarias, sinalizando que houve uma reforma. Vando diz que foi há uns dez anos. Por fora, dá pra ver que as paredes são de adobe com cacos de telha, que a identificam como sendo muito antiga. Há mais de 100 anos? Há cerca de um ano não tem atividades litúrgicas no seu interior. O padre Elielson do Carmo, da Paróquia Santa Clara de Assis à qual está subordinada a capela, tem uma missa marcada para ser celebrada no próximo dia 29, talvez seja celebrada no largo, com um pavimento ainda intacto e bonito, feito com pedras.
Apesar do lugar ter uma aparência bucólica, e instigar a curiosidade histórica, não pense que muito fácil viver por aqui. Um aspecto, a mobilidade das pessoas: apenas um ônibus coletivo urbano entra no lugar, uma vez por dia, às 18 horas. “Faz o balão e vai embora”.
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