Ao coro de “Fora Dilma, Fora PT”, marcham 3 mil pessoas na Avenida Getúlio Vargas. Motivados por uma compreensível indignação, descambam em precipitadas e perigosíssimas demandas. Éticos, bradam contra a corrupção, personificada de forma indubitável na figura de um único governante. Talvez os mesmos que clamam por justiça ao endossar a (in)justiça com as próprias mãos, ao defender a pena de morte e a tortura policial. Talvez até por isso, muitos defendem o regime militar, em incansável luta contra a vigente ditadura comunista dos devoradores de criancinhas, da qual somente a intervenção yankee nos livraria. Talvez, ainda que obviamente não em sua totalidade, uma classe média reacionária, que segue a risca um discurso midiático competente e que reconhece o quão absurdo é o aumento do dólar, talvez deliberado pela comuna governista, ao atrapalhar suas comprar. Até aqui, só talvez.
Porém o certo é que muitos perderam o juízo. Não por protestar, isso é válido. Não por criticar o governo, ainda mais válido frente o novo pacote econômico austero e a evidente quebra de promessas de campanha por parte da presidenta. Em uma crise, é natural os cidadãos irem a rua. Mas algo está inconsistente. Defender intervenção militar, evocar símbolos nazistas, pedir ajuda estrangeira, manifestar ódio ideológico e partidário ou simplesmente recusar o diálogo e trazer uma demanda pronta, vazia e inconsistente, para não dizer golpista até certo ponto, de impitima é algo que não parece se enquadrar. Não ouso comparar o momento com 64, não teremos um governo ditatorial depois de 30 anos de democracia e com uma relativa estabilidade institucional. Mas é impossível não se deparar com as contradições desse sentimento confuso chamado ‘antipetismo’. Evoco Sérgio Buarque: a política torna-se questão doméstica, trama de novela, a discussão torna-se briga de família e os argumentos infantilizam-se, aproximando de xingamentos. “A Dilma está destruindo o Brasil”. É o nosso jeito de tratar tudo com as emoções. “Odeio o PT, odeio a Dilma, odeio o Lula”.
Basta de corrupção! Chega de comunismo! Fora Dilma, e leve o PT com você. Aliás, nossa cordialidade é mestra em encontrar soluções mágicas e unanimamente aceitas para os mais complexos dos problemas sociais e políticos.
Daniel Rêgo é estudante.