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André Pomponet
sexta-feira, 24 de março de 2017 / Publicado em Colunistas, Home

A bazófia da aposentadoria para o trabalho precarizado, por André Pomponet

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As ocupações disponíveis para o trabalhador feirense são muito precárias, em sua maioria. Os melhores empregos estão reservados para aqueles que possuem nível superior. Nessas funções, há o conforto do ar condicionado, do mínimo esforço físico, dos ambientes salubres, sem os rigores do clima, da convivência mais civilizada. Mas poucos trabalhadores feirenses dispõem de nível superior.

É claro que também existem postos salubres para quem têm nível médio ou menos. E muitos que estão na informalidade, sem seus direitos formalmente assegurados em carteira de trabalho, também não se expõem em atividades arriscadas ou penosas. Mas é necessário reconhecer, também, que muita gente labuta sob absoluta precariedade.

Uma das faces mais visíveis da precariedade está no comércio informal. Para quem trabalha na rua, o sol costuma ser implacável na Feira de Santana. Mesmo os que se resguardam nas sombras exíguas sofrem com as temperaturas elevadas. E também sofrem com corredores estreitos e barracas apertadas. É difícil até ajeitar-se para comer, nos inquietos intervalos das refeições.

Situação ruim também é a dos que mercadejam sem ponto fixo, aventurando-se em ônibus, em ruas e calçadas, abordando transeuntes. Há o peso da mercadoria, há os movimentos bruscos, há o risco do atropelamento, há o cansaço inerente a tanto movimento. Esforço digno de titãs, em alguns casos.

Borracheiros, pedreiros, mecânicos, domésticas

Nas oficinas e borracharias espalhadas pela cidade há incontáveis trabalhadores que se dedicam a ofícios intensos: carregam pneus e peças, apertam e desapertam parafusos, manuseiam equipamentos pesados, acumulando poeira e graxa pelo corpo. A maioria é jovem, estudou pouco e ganha muito mal; vão vivendo aquela vida na esperança de que algo melhor lhes aconteça no futuro.

A crise afetou profundamente um segmento que experimentava inédita prosperidade: pedreiros e serventes de obras; os salários melhores e o registro em carteira, porém, não camuflam os esforços imensos exigidos para o exercício deste ofício. As tarefas requerem força, habilidades múltiplas e o manuseio de instrumentos pesados; as jornadas são penosas e, com as limitações da idade, muita gente migra para funções mais precárias, porque o corpo não suporta a rotina rija.

A labuta intensa não é exclusividade masculina. Muitas mulheres na Feira de Santana dedicam-se às funções domésticas, remuneradas como diaristas. Limpar, lavar, esfregar, cozinhar, arrastar móveis e, até mesmo, realizar consertos domésticos exige vitalidade. A remuneração é baixa e as perspectivas de dias melhores costumam figurar como ilusão.

Nas feiras-livres o penoso espetáculo se repete: braços robustos descarregam caminhões, fazem carretos com carrinhos de mão, vendem ferramentas contrabandeadas da China, mercadejam barato as frutas, as verduras e os legumes que o feirense leva para casa.

Embuste

Toda essa gente foi para a propaganda da reforma da Previdência equiparada aos trabalhadores de países ricos: franceses, holandeses, belgas e japoneses. Como se franceses apertassem parafusos, holandeses fossem camelôs, belgas batessem lajes e japonesas lavassem latrinas. Para eles, o governo reserva uma aposentadoria surreal somente aos 65 anos. Obviamente, com rendimentos menores que os já irrisórios valores atuais.

Segundo a bazófia oficial, o povo precisa ir aprendendo a trabalhar até mais tarde, como o fazem os que residem em países civilizados. Supõe-se, desde já, que não faltarão empregadores para trabalhadores manuais pouco qualificados, que já passaram dos 50 anos. É preciso um imenso esforço de imaginação para pensar que a mentalidade atual, solidamente arraigada, vai mudar.

Direito à aposentadoria só com 25 anos de contribuição. Quem vive no sufoco do bico, do desemprego, da empreitada, do emprego eventual, dificilmente vai acumular tanto tempo de registro na carteira. Caso não o faça, não haverá perdão: perde tudo o que contribuiu e passa a esperar o gesto caridoso do benefício social.

Absurdos do gênero invocam o século XIX, a República Velha. E desfazem, mais uma vez, a ilusão de que, neste país, existe senso de solidariedade, existe interesse na prosperidade coletiva, existe atenção com os desvalidos.

Somos tão selvagens quanto os bárbaros que pilhavam a Europa na Idade Média. Talvez estejamos, aqui, dando os primeiros passos em direção àquele passado distante.

André Pomponet é  economista, jornalista,  e assina uma coluna no jornal Tribuna Feirense de onde este texto foi extraído.

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André Pomponet
André Pomponet
Economista pela Universidade Estadual de Feira de Santana (2002), mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia (2012), exerce o jornalismo desde 1995, quando ingressou no extinto jornal Feira Hoje. Posteriormente, atuou em outros órgãos de comunicação e foi Chefe de Redação da Assessoria de Comunicação Social da Câmara Municipal de Feira de Santana.É colunista do Blog da Feira.
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