por Rafael Rodrigues
Qualquer pessoa que tenha o mínimo de noção de planejamento urbano sabe que essa “requalificação” que a prefeitura de Feira anunciou não tem a menor chance de dar certo.
Para que aquelas imagens de cidades europeias – reparem nos “manequins” das fotos, como são europeus, cosmopolitas, todos brancos – se tornem algum dia (uma triste e sem graça) realidade, é necessário diminuir substancialmente o número de carros circulando.
As cidades que estão preocupadas com o futuro da mobilidade urbana já investiram ou estão investindo nisso: diminuir o número de carros e motos, investir em transporte coletivo e ampliar o número de ciclovias, estimulando o uso de bicicletas como meio de transporte.
Mas um planejamento como esse só funciona se houver grandes investimentos e grandes planejamentos/ações em diversas outras áreas. Essas “ruas dos sonhos”, como as apresentadas pela prefeitura, só serão possíveis se houver melhorias extraordinárias nas áreas de Educação, Saúde, Moradia e Segurança Pública.
Além disso, é preciso entender que Feira de Santana não é nem nunca será uma cidade europeia. Feira é uma cidade brasileira, nordestina, raiz. Os feirantes/ambulantes fazem parte, literalmente, da nossa história, pois foram eles que deram origem à nossa cidade.
É lógico que é preciso repensar o centro de Feira. É impossível negar o problema que temos. Mas não podemos, por outro lado, negar nossas origens, e muito menos podemos prejudicar a vida de milhares de pessoas que dependem das vendas nas ruas para sustentar suas famílias.
Que o centro de Feira seja requalificado, mas com muito planejamento e muito cuidado. Do jeito que a coisa se apresenta, é impossível dar certo para todos. Talvez dê certo para alguns, justamente para aqueles que tudo sempre dá certo: os ricos e poderosos.
Rafael Rodrigues é escritor