Outro dia tive um sonho, mas imagino que pode ter sido um pesadelo. Com este aviso, passo ao relato: sonhei que o deputado federal Bolsonaro tinha sido eleito presidente da República Federativa do Brasil, tendo como vice-presidente Cristovam Buarque.
Como a maioria dos sonhos, este aconteceu segundo uma estranha ordem da constituição neural que ainda merece estudos.
Retorno ao devaneio. Sarney era presidente do Supremo Tribunal Eleitoral. Michel Temer era nosso embaixador na China, responsável por conduzir as relações comerciais, mas, como guia para estabelecer as tratativas de acordos bilaterais, exigia que Xi Jinping contribuísse com inovações nos receptáculos de couro, com alça e fecho para o mercado brasileiro.
O sonho é, em si, um grande amontoado de coisas que afasta qualquer lógica de sua compreensão. Retorno. Eduardo Cunha foi reeleito para Deputado Federal e articulava um plano para assumir a presidência da casa. Collor era o presidente do Senado. Lula ainda estava negociando sua situação política, mas o PT havia feito uma autocrítica, aos moldes soviéticos, na qual (ou não) deixava pouca gente disposta a falar em público. O Estado voltava a ter uma religião oficial; o cristianismo com a perspectiva do pentecostalismo era a receita estatal para a consciência religiosa, o que impedia alguém sem este compromisso público de fé, e sem o consentimento do pastor, de granjear um cargo público.
O MDB, agora, era um outro partido, porém, ainda estava na base do governo, com seus antigos membros convertidos à nova ordem; no entanto, sempre abertos para o diálogo com outras forças que poderiam chegar ao poder depois.
A economia estava em ascensão, e o BBB fogueirão, versão politizada do antigo, levava dois ou três esquerdóides para o paredão toda semana; nesta versão, contudo, as paredes tinham buracos resultantes dos cartuchos de fuzil.
A violência havia sido reduzida drasticamente, já que não havia garantias constitucionais aos indivíduos, o que não impedia que forças paramilitares cristãs subservientes ao governo resolvessem os conflitos com o uso da espada moderna: as armas benzidas na boa fé da causa governamental…
É verdade que o real e a fantasia se misturem um dia, mas era um sonho, e sei porque, de repente, acordei. Fiquei confuso, era de fato um pesadelo, não sei. Tais coisas podem perfeitamente acontecer; ainda que os nomes das pessoas sejam diferentes, o perfil, não.
Com o decurso do dia percebi que era um sonho, salvo por uma indagação que sobreveio à própria experiência da imaginação. E esta parte me causa estranha sensação; digo, para que me entendam: por que Cristovam Buarque era vice de Bolsonaro? Se não fosse este detalhe, eu teria certeza de que estava profetizando… Graças ao político e economista eu soube que era uma aventura de minha alma e não a realidade do amanhã.
Cadê Cristovam?
Nilo Reis é professor do curso de Filosofia da UEFS.
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