por André Pomponet*
Os mais atentos percebem que o Brasil vive tempos ásperos. O machismo e a misoginia, por exemplo, recrudescem e estão em alta em muitas dimensões da vida. Incluindo, obviamente, a política. Com esse cenário funesto, como será o desempenho feminino nas eleições que se avizinham, em outubro?
Aqui, na Feira de Santana, algumas pistas estão disponíveis. Basta analisar, por exemplo, a votação das mulheres nas eleições para a Câmara Municipal, há quatro anos, em 2016.
Fala-se do Legislativo – e não do Executivo – porque, naquele ano, houve seis candidatos a prefeito. Não havia nenhuma mulher entre os postulantes. Todos homens, majoritariamente brancos. O debate sobre os rumos da Feira de Santana, naquela oportunidade, limitou-se às opiniões masculinas.
O cenário em relação ao Legislativo não foi muito mais alentador. Foram eleitos 21 vereadores: na primeira leva, só havia duas mulheres. Mais duas ascenderam porque parte da ala masculina acabou convocada para assumir secretarias municipais. Terminaram o pleito, portanto, na condição de suplentes.
Em 2016 exatos 74 candidatos tiveram pelo menos mil votos. Desse total, somente seis eram mulheres. Os demais 68 postulantes mais bem colocados eram todos homens. Alguém, distraído, pode deduzir que a escassa presença feminina na política explica a situação. Não é por aí. Basta examinar a outra extremidade da lista.
Naquele mesmo pleito 22 candidatos não agadanharam, sequer, o próprio voto. Isso mesmo: figuraram nas eleições, mas não foram votados nem por si mesmos. Tiveram zero voto. Desse grupo pitoresco, abnegado, somente dois eram homens. As 20 restantes eram mulheres.
Ampliando um pouco a análise, se observa que 40 candidatos obtiveram menos de dez votos – incluindo aí, óbvio, aqueles que não contaram nem com o próprio voto – nas eleições de 2016. Nesse time, também pitoresco, havia somente cinco homens: 35 eram mulheres. E dos 25 que transitaram entre 10 e 50 votos – foram 25 candidatos nessa condição – 18 eram mulheres.
Em suma, o pelotão favorito é, quase exclusivamente, masculino. Na rabeira, figuraram as mulheres. Uma imposição da legislação eleitoral explica a situação: 30% das candidaturas, obrigatoriamente, têm que ser femininas. Talvez não seja o caso de todas, mas muitas, possivelmente, constam na lista só para constar.
Ano passado um dos senadores baianos até apresentou proposta revogando a exigência da cota feminina. Muitos marmanjos da elite política raciocinam de forma similar e até julgam que a presença de mulheres nas chapas é um estorvo, um detalhe burocrático que atrapalha a vida dos verdadeiros players.
Pouco diverso, o ambiente político feirense carece de mais presenças femininas. Sobretudo para qualificar o debate e conduzir, no Legislativo municipal, uma agenda de reivindicações afeita às mulheres. Infelizmente, essa é uma das lacunas da Câmara Municipal hoje. Tomara que comece a ser sanada em 2021.
André Pomponet é jornalista
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