
por André Pomponet*
Nem todo mundo percebeu, mas a democracia no Brasil segue enferma com viés de piora. Para o próximo dia 15 de março estão previstas manifestações organizadas pelos acólitos de Jair Bolsonaro, o “mito” que ocupa a presidência da República. Nas mídias sociais circulam convocações que defendem o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, o STF.
Noutras palavras: querem fechar o Legislativo e o Judiciário. No delírio autoritário, restaria o Executivo, comandado pelo “mito”. E os militares exerceriam ampla ascendência nesse novo arranjo, é claro. Não faltam audaciosos reivindicando “intervenção militar já”, o que implicaria, provavelmente, na ejeção do “mito” da cadeira presidencial.
Em qualquer país civilizado aspirações criminosas do gênero – ou não é crime atentar contra a democracia? – seriam abortadas no nascedouro. Por aqui, não: há quem encare o surto autoritário como “zoeira” ou “polêmica” de mídia social, raciocínio típico de imaturos ou irresponsáveis. Outros, os mais sofisticados, supõem que se trata de saudosismo de viúvas decrépitas do regime militar.
Matreiro, o “mito” navega confortável em meio às ondas de instabilidade. Primeiro, compartilhou um dos vídeos que prega o fechamento do Congresso e do STF. Depois, espertamente – numa daquelas lives semanais que mantêm a matilha atiçada – insinuou que a paralisia do governo se deve ao Congresso, que não aprova seus projetos. E citou dois, que redimirão o Brasil: o que amplia a validade da carteira de motorista e o que aumenta a quantidade de pontos para a suspensão do direito de dirigir.
Caso massas ensandecidas acorram ao chamamento, o “mito” vai se municiar, se almeja emparedar deputados e senadores, conforme se desconfia. Suas disposições autoritárias – comuns em inúmeras declarações – serão, portanto, bafejadas. Aqueles que defendem a cafonice de uma ditadura nos moldes da década de 1960 se sentirão legitimados para seguir em frente.
Muitos otimistas consideram improvável uma ditadura nos moldes autoritários defendidos por parte dos acólitos do “mito”. Julgam que os tempos são outros e que a comunidade internacional rejeitará uma aventura do gênero. É bom ter cautela, porque o Brasil sempre figurou na vanguarda do atraso e retrocessos, por aqui, só surpreendem os desavisados.
Aqueles dedicados às análises de cenários sabem que será funesto o futuro do Brasil sob uma ditadura de extrema-direita. Mas, caso a cruzada dos acólitos do “mito” fracasse, o que virá será desolador: cercado pela patota militar, conduzido por um magote de incompetentes, refém de múltiplas crises – principalmente política e econômica – o governo se arrastará, moribundo, até 2022.
Será o fim de linha para o “mito” e a extrema-direita? Nem tanto: eles seguirão apostando no fantasma do petismo como trunfo para tentar a reeleição. Surfarão no próprio caos que estão construindo.
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