Falar sobre Mulher Negra, é falar de Resistência, Força, Perseverança.
É falar da labuta diária para viver e sobreviver. Registrar a vivência é ato de cuidado a memória das pessoas que agregam valor a humanidade e Ana da Maniçoba é uma pessoa que enriqueceu a cultura e a história de Feira de Santana.
É necessário ter referência, lembrança e memória de valores para nos inspirar diariamente e escrever sobre a minha vovó, Ana da Maniçoba. É tecer linhas e páginas sobre: amor, bondade, justiça, partilha, comunhão, escuta, ética e sabedoria.
O que é viver eticamente? Não sei responder! Mas, posso falar sobre algumas observações que vi e ouvi da vida da minha avó, que inspira ética.
Pensei, narrar sobre uma véspera de Natal, onde o restaurante estava fechando, eram quase 16:00 horas e cerca de 15 meninos aparentemente viciados em drogas lhe pediram comida e ela alimentou todos eles. Lembro, que Seu Jorge, o vigia do Mercado de Artes, disse: – “Dona Ana, são todos vagabundos! ” E ela respondeu: – “Estão com fome! ” E fez as quentinhas para todos e pediu que seu Jorge fosse na praça em frente ao Mercado de Artes, entregar.
“Não mexe comigo que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe não…
O menino Deus brinca e dorme nos meus sonhos…
O poeta me contou…”
(Maria Bethânia – Carta de amor.)
Esta música, seria a trilha sonora do fato que será narrado, vamos falar de um vizinho, homem branco que, se incomodou com o sucesso de Ana da Maniçoba, uma mulher, negra, mãe solteira, que vive com muito respeito e dignidade. Dona de um restaurante, bem frequentado e que desperta a inveja do forasteiro vizinho, que com pouco tempo que chegou, logo, se incomodou com o sucesso desta mulher.
O vizinho do restaurante de Ana da Maniçoba, da rua Tereza Cunha Santana, na década de 1970.
Segundo ela, ele era gerente do banco Bradesco, veio de Jaguaquara aqui para Feira de Santana e foi morar vizinho ao restaurante. O nome dele era Joel… nessa época o major Diógenes, era o delegado de Feira, o delegado que era amigo do vizinho Joel também cismou com a casa e embargou seu funcionamento. Houve um Jantar para Joao Durval Carneiro que nesse tempo era Deputado Federal. Quando o pessoal acabou de sair, chegou o major com a polícia para fechar a casa… Fizemos um abaixo-assinado, com assinaturas de gerente de bancos, médicos, empresários, professores… todos com firma reconhecida, o meu advogado foi Dr. Roque Aras, o Juiz foi Dr. Jarbas e o promotor Dr. Galileu…
O abaixo assinado foi para Agencia Geral de São Paulo, o advogado Roque Aras, requereu o mandado de segurança que foi aprovado:
“E eu ganhei a questão. O gerente do banco foi transferido…Eu ganhei a questão e todos os comerciantes de Feira fizeram uma festa. Os cavalheiros levavam O Whisky e as esposas as bandeja de salgados para comemorar”
Ana da Maniçoba é uma mulher que transborda respeito e amor, respeito pelo ser humano, respeito por si e pelos outros. Também citada por Oydema Ferreira como “Pérola Negra”. Já foi coroada Rainha da Micareta de Feira de Santana. Pelos historiadores e antropólogos é lembrada como patrimônio de Feira de Santana. Ela, que carrega o nome de Ana a padroeira da cidade. No livro “Mulheres que deixaram marcas” Ela também é citada. Já foi madrinha do Time Fluminense de Feira em 1977.
Recebeu:
Prémio Mãe do ano – 1990
Troféu Cidade 1996
Prémio Cidade – Feira de Santana 2007
08 de março de 2007 – Homenageada pelo Shopping Iguatemi (Feira de Santana)
Ordem Municipal do Mérito. Feira de Santana – BA – em 2009 recebeu o título em 18/09/2010.
Troféu Personalidades 2012 Feira de Santana-BA
Troféu 6° Encontro do Dia Internacional Da Mulher Negra. Feira de Santana-BA 2014
Troféu Maria Quitéria – Mercado de Artes Popular – 2016