
Com a epidemia de coronavírus, são horrorosas as perspectivas para a economia brasileira em 2020. Instituições financeiras internacionais já trabalham com cenário de recessão. Aqui, a Fundação Getúlio Vargas, a FGV, estima que o tombo, no limite, pode ser muito grande: -4,4%. O governo recuou a projeção para um número simbólico: alta de 0,02%. Na prática, estagnação, na melhor das hipóteses. Mas tudo indica que vai haver mais uma recessão.
O problema é que o liberalismo primitivo em moda no Brasil tem tudo para tornar as coisas ainda piores. Nesse ambiente recessivo, incentivam o corte de salários por conta da epidemia, não tomam medidas concretas para frear o desemprego e – o que é pior – seguem, vorazes, podando iniciativas essenciais como o Programa Bolsa Família, essencial para atenuar a pobreza.
Caso sigam tocando este receituário insensato, vão conseguir aprofundar a recessão, penalizando sobretudo os trabalhadores e os brasileiros pobres. Não falta quem – sem cerimônia – já preveja um recuo nos moldes daquele que o petê produziu após a reeleição de Dilma Rousseff.
Quem enxerga isso, a propósito, não é a esquerda, nem o “jornalismo petista” que alguns excêntricos veem florescendo por aí. É a turma da finança, gente alojada no topo de respeitáveis instituições bancárias. Essas credenciais, claro, não impedem que sejam associados a um complô da oposição, já que alguns delirantes acólitos de Jair Bolsonaro, o “mito”, criaram a exótica categoria dos financistas de esquerda.
Quem vai ser mais alvejado com esses números desfavoráveis? É justamente a parcela mais pobre, fragilizada pela interminável crise econômica que se arrasta desde meados de 2014. Camelôs, ambulantes, prestadores de pequenos serviços, microempreendedores e pequenos empresários. Ironia perversa: os tão festejados empreendedores estão – como sempre – entre os mais expostos.
Para esses, o governo do “mito” promete um auxílio para os próximos três meses que é, no fundo, uma grande piada: 200 reais para segurar o rojão pagando água, luz, comida e – para os mais desafortunados – o aluguel. Não é preciso muita ciência para imaginar que o valor é irrisório. Sobretudo com o cenário funesto de violenta retração nos negócios que o coronavírus vai impor.
Dias atrás, horrorizado, o “mito” reconheceu que as necessárias restrições à circulação de pessoas para conter o avanço da epidemia iam se refletir sobre a economia. Com isso, o governo dele seria prejudicado, acabaria, na expressão do próprio. Falou com aquele habitual olhar vazio, o lábio contraído, o ar de dificuldade para entender a gravidade do momento que o Brasil vive.
Mas o “mito”, mais uma vez, se equivoca. O governo naufraga por falta de liderança e de um rumo para a economia. Se antes se resumia ao discurso rasteiro das privatizações e das reformas redentoras, agora, com o coronavírus, está mais perdido ainda.
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