O padre Renato Galvão fez história em Feira de Santana.
Aqui cheguei aos 6 dias de junho de 1965, a convite do primeiro bispo da Diocese de Feira de Santana. Deixava o sertão onde vivera por muitos anos seguidos e devia assimilar costumes e até a pastoral de uma grande cidade, disse em artigo publicado no extinto jornal Feira Hoje, em 1990. Cinco anos depois morreria fulminado por um infarto.
Aqui em Feira teve ativa vida social. Foi um dos fundadores da UEFS e tornou-se um rigoroso estudioso e catalogador de documentos da história da cidade.
Foi o irreverente vigário-geral da Catedral de Senhora Santana, que morreu como monsenhor, que em 1989 colocou a placa registrando o sepultamento de Lucas Evangelista (Lucas da Feira), enforcado em Feira de Santana em 1849.
Fica na parede da lateral esquerda da igreja matriz do arraial onde viveu e morreu o escravo fugido mais famoso do Brasil, depois de Zumbí dos Palmares. Lucas da Feira goza de uma fama pelo avesso da que eleva Zumbi ao panteão.
Enquanto aquele foi se tornando herói à medida que a historiografia se desenvolvia junto com a consciência étnica, afro-brasileira, Lucas da Feira continuou no limbo da pesquisa sociológica, marginalizado pela narrativa da época que avançou pelos tempos e predomina até agora, a de que Lucas foi apenas um “salteador”, um bandido.
A placa foi colocada sem nenhuma solenidade. Galvão, embora fundador da UEFS, portanto com influência na elite política e econômica, não tinha acolhida nesse ponto de vista sobre esse personagem da história local.
Foi, então, uma provocação a esse rancor transmitido por gerações e gerações de feirenses. O monsenhor pôs a homenagem à revelia de historiadores e autoridades. Não foi por isso mesmo registrada no jornal diário em circulação na época, o Feira Hoje.
A placa marca a data do sepultamento como ocorrida em 25 de setembro de 1849 e diz assim:
“Diante dessa porta foi sepultado, a 25 de setembro de 1849, Lucas Evangelista (Lucas da Feira). Paz à sua alma”. Feira de Santana, 16 de junho de 1989.
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