“Dia 13 de junho é dia de emborcar a cuia”. Ao chegar em Feira há 40 anos atrás, em 1980, ouvi muitas vezes esta expressão dos agricultores locais e fui à pesquisa para compreender.
Nosso período de plantio aqui na região se enquadra no sistema de chuvas do leste baiano de outono/inverno, mais especificamente nos meses de abril, maio, junho e julho, onde os ventos alísios de sudeste empurram a umidade do Atlântico Sul para o nosso litoral, e ainda, o avanço das frentes frias subpolares, que ao encontrarem o ar quente é úmido sobre o Atlântico, condensa rapidante esta umidade gerando as chuvas frontais.
Nos anos em que este sistema tem o seu funcionamento nesta descrição acima, as chuvas com regularidades permitem o plantio e a colheita com bastante eficácia, não só na região de Feira, mas até a região de Tucano, Euclides da Cunha, etc, no nordeste da Bahia.
Mas este período de chuvas regulares é curto, e os agricultores sabem disso e carregam experiências empíricas importantíssimas, como a identificação de um tal veranico de maio, temido pelos agricultores, quando as chuvas suspendem e o sol prejudica a lavoura, levando à perda ou quebra de safra, e, até a seca verde. Mas em anos onde este sistema apresenta regularidade, a janela para plantar encerra-se em 13 junho, é o que se pratica, pois daí para frente fica curto o período úmido.
E não está errado.
Em agosto as chuvas diminuem e os ventos adquirem mais velocidade, com noites mais frias. Georgina Erisman, no Hino a Feira de Santana, retrata as “noites vazias de agosto” em nossa Cidade, e sem dúvidas ela conhecia muito bem o friozinho noturno, com ventos deste mês do ano, que faziam os feirenses se recolherem em suas casas (Hino do início do séc XX).
O conhecimento científico quando combinado com os saberes populares, às vezes nos surpreendem pela eficácia. Portanto, é mais seguro apressar o plantio, ainda temos 8 dias de janela aberta.
Marialvo Barreto é Geógrafo e Professor