
Lembro bem do furor moralista, das disposições messiânicas, do afã redentor de parte dos eleitores de Jair Bolsonaro, o “mito”, em 2018. Passadas as eleições e consumada a funesta vitória, muitos se converteram em implacáveis acólitos, foram encorpar as matilhas digitais que se dedicaram a fustigar a imprensa ou qualquer voz discordante desde 2019. Brandiam a “nova política”, uma nova era sem corruptores e corruptos. O fiasco veio a galope: a “nova política” desaguou em Rio das Pedras.
Sozinho na badalada live semanal, o “mito”, ontem (18), parecia aturdido com a prisão do seu ex-faz-tudo, Fabrício Queiroz. Acomodado no gabinete de um dos filhos de Jair Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Queiroz é suspeito de gerir uma “rachadinha” milionária. Em proveito do filho do “mito”, claro. É o que suspeitam os investigadores. Pelo que noticia a imprensa, há evidências.
Suspeitas do gênero não são inéditas na política e, talvez, até nem repercutissem tanto. Pior é a suspeita de que essa gente se articula com as milícias que atuam com desenvoltura na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O epicentro seria a comunidade de Rio das Pedras. Caso se confirmem as suspeitas, estaríamos, hoje, entregues a uma espécie de república de Rio das Pedras.
Tudo é tão escabroso que até a pandemia do novo coronavírus foi relegada a um plano secundário no noticiário. E isso num momento em que o Brasil ultrapassou a marca do milhão de infectados. Especialistas suspeitam, porém, que mais de seis milhões de brasileiros já se contaminaram. E o número de mortos? Já ultrapassou a barreira dos 48,4 mil mortos. No fim de semana, o triste marco das 50 mil mortes será ultrapassado.
O errôneo clima de que “o pior já passou” espalha-se pelo País. Governadores e prefeitos flexibilizam o isolamento social, determinando a reabertura do comércio, liberando a prestação de serviços. Paralelamente, o número de mortos e infectados vai crescendo. Não faltam discursos tranquilizadores das autoridades, apesar dos alertas de especialistas e de organismos internacionais.
Aqui na Feira de Santana, por exemplo, o número de infectados já passou dos dois mil. O número de mortos aproxima-se da meia centena. Mesmo assim, o feirense não abdica da mesa farta nos festejos juninos e vai se acotovelar lá no Centro de Abastecimento para comprar o milho e o amendoim, produtos tradicionais da época. Tudo indica que, nos próximos dias, o movimento vai ser intenso por lá.
Mesmo quando o comércio permaneceu fechado, muita gente circulava, tranquilamente, pelo centro da cidade. A reabertura das lojas – mesmo num esquema de revezamento – é um atrativo a mais para quem despreza a pandemia e desfila, tranquilo, nas estreitas artérias do centro.
Que fazer? Ficar em casa, para quem pode. Mesmo quem acompanha o noticiário distraído vê que o Brasil está à deriva. Caso sobreviva à república de Rio das Pedras, lá adiante, vai ser hora de sair, catar os cacos, encarar o penoso desafio de reconstruir o que está sendo destruído. Mas, por enquanto, a única alternativa é ficar em casa.
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