Eu costumo iniciar uma conversa sobre o Espaço Urbano, sempre lembrando que a cidade é um grande negócio que se movimenta constantemente e, garante a reprodução do Capital, culminando com uma relação, onde o lucro do Capitalista implica em mais exploração do trabalhador.
O que pretendo afirmar é que os empresários de tudo farão para alavancar seu processo de acumulação de riquezas e farão o que for possível para não ter de abrir mão do seu dinheiro, ou pelo menos, o dinheiro que ele se acha o dono.
Não à toa, sempre que se conversa com algum representante desta classe, principalmente os pequenos e médios, se auto intitulam como o motor que propulsiona a economia. Afirmam que sem o seu Capital não existe emprego, simples assim? Mas se esquecem de observar que sem emprego, não existe Demanda por produtos, e aí vem uma pandemia que joga a atividade econômica no chão e mesmo assim, eles não aprendem.
Sem o empregado seu e de outras empresas não tem renda e as empresas entram em crise, inclusive a dele, por mais que ele faça o contrário, e não adianta pisar e humilhar o trabalhador, pois desempregado ele não compra e humilhado, não produz.
Apresentado o cartão de visitas, vamos ao fato que estourou no início da semana, o fechamento, pelo Ministério Público do Trabalho, de uma empresa do ramo de doces em Feira de Santana, onde 1/3 dos empregados testaram positivo para o novo coronavírus. Sim, de um total de 44 empregados, 1/3 estava contaminado, e a empresa, fez o que em seguida? Simplesmente recorreu à justiça para reabrir suas lojas, pois alega necessitar manter os empregos . E assim de forma simples com o silêncio da sociedade, se monta uma tentativa de genocídio da população. Mas o descaso se faz presente em nome do lucro e da acumulação de riquezas, a cidade é um grande negócio e como tal explora os trabalhadores.
Transporte caótico, profissionais de saúde trabalhando sem a devida proteção e expostos ao vírus. Senão vejamos, tínhamos até poucos dias atrás cerca de 600 profissionais de saúde contaminados em Feira de Santana. Agora imagine a exponencialidade de transmissão do vírus, em contato com diversas pessoas. Se cada profissional de saúde contamina 5 pessoas, somente aí teríamos 3 mil casos nas ruas retransmitindo. Mas em vez de ligar a luz de alerta, o que a cidade capitalista resolve fazer? Liberar geral. Entendeu porque afirmo que a cidade é um grande negócio? e somos apenas mercadorias que a cada dois anos viramos eleitores, e nos prometem que dali em diante seremos tratados como humanos, mas ainda aqui somos meras mercadorias.
Parece que ainda estamos num modo de produção escravista. E nada mais tenho que lembrar da indisfarçável hostilidade do patronato feirense e seus políticos de estimação, ao lembrar dos últimos dias, a cidade se acabando em buracos, tanto nos bairros quanto nos distritos da zona rural, quando a gestão municipal nos surpreende e impulsiona um trabalho em pleno período chuvoso no centro da cidade, apenas com o intuito perverso, de desalojar a população mais fragilizada em tempos de pandemia, os camelôs e ambulantes, obrigando-os a ir alugar boxes caríssimos, com alugueis e taxas condominiais de no mínimo R$ 600,00/ mês.
Será que a insensibilidade é tanta para observar que não se tem vendas suficientes entre os meses de agosto e novembro para os camelôs? Será que apenas a oportunidade de deixa-los a mercê de um contrato que os obriga a pagar em dias uma despesa que não está prevista, e simplesmente em outro ato perverso, despejar os pobres por falta de pagamento.
Afinal de contas, com clientela estabelecida eles não tem nem para se alimentar, fico a pensar o tamanho da tragédia ao iniciar em novo ponto, fazer novos clientes em tempos de pandemia e convocar os antigos clientes. Não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz.
Antes que digam que terá uma pausa nos pagamentos de alugueis, o mesmo não se refere a taxa de condomínio que vai girar entre R$ 200 e R$ 300 mensais desde a chegada ao tal empreendimento. Não existe a menor condição de se ter capacidade de pagamento destas taxas e pior, em seguida taxas e aluguel. Os clientes estão na parte de cima da cidade, a cidade que é um grande negócio. Basta lembrar que a hostilidade com os ambulantes é histórica.
Um passeio pelos bairros da Queimadinha e Rua Nova e uma boa prosa com os mais antigos moradores e vamos verificar que os ambulantes já foram desalojados de onde é a praça do fórum e ocuparam por décadas a avenida Getúlio Vargas com uma feira livre que começava na praça da Bandeira e ia até a proximidades do EMEC. As segundas feiras a burguesia emitiam os mesmos sons preconceituosos contra os pobres e assim construíram o Centro de Abastecimento, onde já naquele período não coube todo o pessoal.
A volta ao centro se deu aos poucos e culminou com os dias atuais, onde comerciantes avaros que não testam seus empregados, reclamam da sujeira das ruas, como se a prefeitura fosse inata. O mesmo discurso de antes do Centro de Abastecimento. Ainda bem que as chuvas escancararam a péssima qualidade da construção do tal galpão e as goteiras lavaram a alma dos que ainda resistem a não ir para o imolamento daquele local.
Quero aqui me solidarizar com os trabalhadores contaminados da bomboniere, eu estive numa loja deles no dia 03 último e com dois familiares, imagino o risco que corremos ou estamos ainda correndo. E tudo por que somos meros produtos mercadológicos, na ótica capitalista, que eles ainda têm a cara de pau de recorrer à justiça se sentindo injustiçados.
Aí começo a refletir sobre as escolhas de Lucas da Feira e de Lampião entre tantos, é morrer matando assim nos ensinaram os cabanos do Pará, mas aqui em Feira preferimos apenas morrer calados, mas eu não quero morrer calado, pois a foto da trabalhadora do time de futebol que morreu de covid, me lembra que mais de 102 mil vidas até aqui morreram no Brasil para que o lucro do patrão fosse garantido. Peguem seus boletos e enfiem na goela abaixo, amanha será outro dia.