Algo de belo este estranho ano teria de trazer. A live-presente de natal de Caetano Veloso, além de todas as virtudes já comentadas por tanta gente boa no Twitter, trouxe um curto momento que me marcou de tantas maneiras… Talvez somente os mais assíduos leitores do Blog da Feira se recordem de um dos primeiros textos desta coluna muito pouco regular, publicado no natal de 2019. A renovação dos assuntos humanos teve uma compreensão de A Condição Humana que coloca a figura da criança-prometida, que carrega em si os signos do perdão e da esperança e anuncia a renovação de todas as coisas.
Caetano diz que A Condição Humana é centrada no nascimento. Concordo. O que vemos nesse livro é a Arendt filósofa (apesar de sua obstinada insistência em não entrar no círculo dos filósofos, afirmando ser uma teórica política) em toda sua potência intelectual. É pensar o ser humano após o impensável ter acontecido. É pensar o que nos resta para conquistar e para construir, numa época que trouxe a destruição inimaginável. É pensar no destino da comunidade-humana, construída por ele mesmo, do átomo à vastidão do espaço infinito.
Mas Caetano resumiu tudo ao nascimento. E ele está certo. É a potência, é o que permite que exista a humanidade, num sentido muito além do biológico. Arendt é a filósofa da ação, e ação é potência. Potência é nascimento, que sempre é o que pode vir a ser, mas também o que já é. É o que devemos lembrar, mesmo no ano em que experimentamos a tragédia humana em outra forma (quase) sem precedentes.
Enfim, estas linhas apenas serviram para registrar este momento. Que tal uma re-leitura tropicalista da condição humana? Não sei. Vem aí? Por enquanto, vou continuar a experimentar o sublime: