A primeira segunda-feira de 2021 traz esperanças e riscos. A necessidade humana de atribuir significados sociais aos ciclos da natureza se encarrega de estimular confraternizações e um sentimento de que tudo está prestes a mudar. O antídoto para a peste parece cada vez mais próximo (apesar da absoluta inépcia do governo brasileiro fazê-lo parecer mais uma miragem), mas nossos agouros estão longe de acabarem.
A nova “variante inglesa” da Covid-19, que já circula em nosso país, é pelo menos 50% mais transmissível. Isso para não falar da potencialização das festas e reuniões familiares que inevitavelmente ocorrem nessa época.
Estamos na iminência de um quadro gravíssimo. Mesmo assim, lockdowns e medidas do gênero parecem estar cada vez menos no arsenal dos governantes, que precisam logo entregar números positivos na economia. O fim do auxílio emergencial faz a população, encurralada entre morrer de vírus ou de fome, ainda mais aversa a essas medidas.
Precisamos voltar a falar sobre máscaras. Eficazes contra a transmissão do vírus quando usadas corretamente, mais do que nunca dependeremos delas para aguentar os últimos meses pré-vacina. Nem todas são iguais, e seu uso correto ainda não foi suficientemente explicado pelas autoridades e pela imprensa. Diz-se: tem que usar, e pronto. Após alguma pesquisa, consegui compilar algumas recomendações que penso que podem ser úteis.
Afinal, qual a melhor máscara?
As máscaras (chamadas oficialmente de respiradores) padrão N95 (ou o seu equivalente no Brasil, o PFF2) são as mais eficientes contra a transmissão do vírus. Ao contrário do início da pandemia, quando foram reservadas para a equipe de saúde na linha de frente, hoje podem ser encontradas com relativa facilidade em lojas especializadas em materiais médico-hospitalares (ainda não achei em farmácias) em Feira de Santana. Elas vem em grande variedade de tipos e marcas, e achei por aqui custando de 6 a 16 reais.
Apesar de a embalagem recomendar o descarte após um único uso, já há diretrizes sobre o uso prolongado do equipamento. As regras básicas são: não deixar molhar, não deixar rasgar, guardar em saco aberto ou local ventilado, higienizar as mãos antes e depois de colocar, de retirar e de tocar a máscara. Não pode passar álcool ou lavar o respirador. Além disso, a máscara deve estar bem ajustada ao rosto, e não pode vazar ar (cuidado especial com o ajuste no nariz!).
Mas atenção: a versão a ser usada deve ser sem válvula, para que a filtragem ocorra em ambos os sentidos (ou seja, se você estiver contaminado, não contamine a outra pessoa). Ela é altamente recomendada para pessoas dos grupos de risco ou para lugares com alto risco de contágio: transporte público e outros locais fechados, com pouca circulação de ar e muita gente. Ah, e tem mais: se ela estiver vedada corretamente, não embaça o óculos!
Qual outra máscara é recomendada?
As máscaras cirúrgicas, aquelas descartáveis e geralmente azuzinhas, são a segunda melhor opção. São mais respiráveis e mais leves que as N95, mas se forem de boa qualidade, com 3 camadas e estiverem bem ajustadas, são bastante efetivas. Elas são uma ótima opção para atividades ao ar livre ou em locais com boa circulação de ar.
Também não consegui achar na maioria das farmácias que procurei em Feira de Santana, mas encontrei caixas com 50 unidades numa faixa entre 50 e 70 reais em lojas especializadas. Essas máscaras, no entanto, são descartáveis, devendo ser jogadas fora após cerca de 4h de uso.
E as máscaras de tecido?
Depende. Para darem uma proteção decente, as máscaras de tecido devem ter ao menos 3 camadas e malha fina. Uma forma de testar é colocá-la contra a luz: se for muito transparente, não são adequadas. Outra forma é tentar apagar uma vela ou um fósforo, como no vídeo abaixo:
Mas atenção: em qualquer caso, é extremamente importante que a máscara esteja bem ajustada ao rosto, principalmente na parte do nariz. Não deve estar vazando ar por cima ou pelos lados; isso diminui bastante a proteção porque as partículas podem “contornar” a máscara.
Conclusão
É mais importante do que nunca continuar se protegendo e, na atual situação, máscaras de boa qualidade e utilizadas corretamente são essenciais.
Me escapa o porquê de as recomendações oficiais terem permanecido tão simplórias sobre máscara: não é só sobre usar/não usar, mas usar corretamente. Máscaras no queixo, mal colocadas, folgadas, de qualidade ruim são geralmente fáceis de se evitar, mas esse parece ser um problema que está longe do radar das autoridades. Ah: faceshield não substitui máscara!
Por que a prefeitura de Feira de Santana, comandada por um médico recém revestido, pelo sufrágio, da confiança popular, não aproveita para publicar e divulgar nos meios à sua disposição recomendações mais completas, informativas e específicas sobre o uso adequado das máscaras? Por que não fiscaliza seriamente o cumprimento das medidas de segurança biológica nesse conturbado retorno de recesso? Seriam formas interessantes de começar o novo ano já mostrando a que veio o ‘novo’ governo.
Estamos começando 2021 com esperança, condição humana essencial para existência continuada e solidária da nossa espécie na terra. Mas os riscos continuam presentes, e agir correta e responsavelmente é também prova de força e resistência.
Apêndice: vídeos e links
Estudo que mostra que tecidos como bandanas podem ser piores que não usar máscara, pois ao invés de reter as gotículas, as reduzem e espalham, em inglês: Low-cost measurement of face mask efficacy for filtering expelled droplets during speech | Science Advances (sciencemag.org)
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