Domingos Nunes acabou de falar no ‘boró’ dos garimpeiros que compravam melancia a um antigo morador do vale do rio Pojuca, quando Zé Beiçola, que tinha ido buscar lá dentro a cerveja que eu tomava sozinho, viu o vaqueiro e foi logo fazendo as apresentações à moda dele:
–O homi tá aqui perguntando sobre a linha, se tem gente aqui daquele tempo ou fio fia de quem trabalhou no trecho…., e empinou o beiço em minha direção que também não tinha visto, ouvindo Domingos falar, não tinha visto chegar o vaqueiro Marivaldo, à cavalo, silenciosamente escorados no pé-da-cerca que divide a estrada da venda de Zé Beiçola que é a última casa antes do bueiro.
Como já disse em folhetins anteriores, o povoado da Linha, o nome já diz, é uma estrada retilínea que segue o curso da ferrovia concebida desde o século 19, com inícios e interrupções nas obras de construção, tendo sido a última no início da década de 60 do século passado com a Ponte da Matinha, tema exclusivo do primeiro desta série de folhetins sobre O Trem que nunca chegou na Feira.
– Essas coisas é porque vão voltar as obras, é? , perguntou Zé Beiçola expressando o desejo de um sonho, que mesmo remoto, esgarçado pelo tempo, ainda persiste no tal “inconsciente coletivo”. Ah se o trem tivesses passado por aqui….Há sempre uma tristeza pelo que não se foi. E quando estava dizendo que ainda não sabia exatamente o que eu queria, Domingos saltou de lá:
–Você precisa ver o Bueiro, tá aqui bem na frente, e apontou para a estrada, que fica nesse trecho paralela a uma grande “banca” onde está um gigantesco bueiro que seria ao mesmo tempo passagem de gente e animais, caso o trem passasse. O trem nunca passou.
Nos próximos folhetins:
A venda de Zé Beiçola
Confira a série completa: O trem que nunca chegou na Feira
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