Matar a Feirinha da Marechal e tudo que lembre uma feira-livre nas ruas de Feira de Santana é uma obsessão primária da ignorância crônica do feirense de todas as classes, baixa, média, das elites políticas, intelectuais e comerciais (menos os ricos, porque ricos, ricos mesmo, de fato e grana, aqui são poucos, se é que existem, não sei direito, e não se metem nessas coisas…nem moram por aqui, apenas ganham o dinheiro). Somos uma cidade pobre cheia de “novos ricos”.
Essa obsessão não é de agora, como bem mostra a história (para quem dela sabe) da morte da grande feira-livre, maior do que a de Caruaru cidade que cresceu montada na feira de lá.
Para ilustrar essa maluquice que atinge a todos, lembro de uma foto postada nas redes sociais por um conhecido agente de viagens em uma rua deserta de uma cidade turística e histórica-medieval da Europa, com legenda comparando com nossas ruas apinhadas de camelôs e gente pobre atrás do sustento. “Quem dera Feira fosse assim”, legendou o babacão. Uma coisa ridícula mas curtida por tantos e tantos, inclusive pelos que sequer podem viajar ali a Salvador. É o chamado complexo de vira lata que fala, né?
Mas ele atinge a todos, independente de credo, ideologia, nível social, educacional, o escambau… Difícil encontrar alguém que pense diferente, inclusive muitos do que agora, por interesses vários, levantam plaquinha no Instagram “defendendo” a permanência da Feirinha da Marechal enquanto as obras da Prefeitura avançam para cumprir a meta obsessiva. Nunca se movimentaram para mudar essa ideia fixa mas agora fazem disso uma griffe partidária e se vendem como vanguarda do pensamento urbanístico. É a Feira…
Penso que a Feirinha da Marechal já perdeu essa guerra que de fato nunca existiu porque esse pensamento apodrecido sobre o que é uma cidade, repito, é preponderante. O Ministério Público é contaminado, o Poder Judiciário nem se fala. Vai sair, mesmo que estrebuche e berre, embora penso também que um dia volta, espontaneamente, para ocupar as calçadas largas e vazias que a Prefeitura está fazendo e que, creia, já são até motivo de críticas porque complicam a vida dos automóveis, o trânsito, estreitam as ruas para o carro que acreditam ser o verdadeiro consumidor e não o pedestre. É aberração total…
Mas vamos lá….encerrar esse texto de reflexões aligeiradas para cumprir o ofício de escrever: certo dia, em um evento público, o prefeito Colbert Filho (era ainda o vice que assumira o cargo) sugeriu, insinuou, acenou, que a Feirinha que funciona na praça da Bernardino Bahia (ou do Lambe-Lambe) não iria sair dali, apesar de todas as tentativas já feitas inclusive colocando polícia para “proteger calçadas”. Sem muita convicção, me apego a essa vaga esperança naquela vaga promessa…
No mais, é aguardar o retorno espontâneo no correr dos anos que espero ainda viver caminhando pelas ruas da Feira que não sai de mim nem eu saio dela.
- Comércio de escravos na Feira de Santana - 28/09/2024
- Pequenas histórias da escravidão na Feira de Santana - 26/09/2024
- O samba da feira-livre - 20/09/2024