Houve um Tempo, antes dos dias e do tempo miúdo,
que o silêncio das folhas e o rumor dos ventos se encontraram, na cabaça antiga
Quando a cabocla das águas soprou a primeira fumaça e fez surgir o escuro da noite
Pois bem, houve esse Tempo
Em que as palavras ainda se abrigavam nas estrelas,
à espera de quem as invocasse nas janelas, nas noites de plena lua
neste tempo sem janelas e sem clepsidras
Em que a gente sabia as coisas passadas sonhando o sonho dos velhos
Foi nesse tempo que o ventre da noite se afundou, cabaça-mãe e leite vertido, e o redemoinho antigo explodiu em água turva
a Mãe dos Jacus estendeu a flecha ignota e reivindicou as águas Jacuípes, rio dos Jacus
Jaguara, terra de cachorro doido
nesse tempo, sem tropeiro, boi estradeiro e romaria
Jaguara se fez do veludo interno da noite, com as dobradiças gastas do tempo, entre rios e eternidades
E ficou esperando
As palavras
Os bois
Os santos
O progresso
E as histórias que adormecem o medo
Guardando o tempo, entre as águas e o giro das garças
que enganam a morte com o balé etéreo de seu giro branco sobre as águas fundas.
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