O grupo acadêmico “UEFS de Todos”, formado por professores, servidores e estudantes da Universidade estadual, emitiu nota sobre a derrubada da Senzala no campus da Universidade Estadual de Feira de Santana:
“UEFS de TODOS: A demolição do espaço Senzala e a face truculenta e antidemocrática da Reitoria da UEFS.
Pode-se até não concordar com as atividades desenvolvidas no espaço Senzala, mas demolir o espaço na sombra da pandemia é uma atitude truculenta e antidemocrática.
Na sexta-feira, 12 de novembro, a comunidade universitária e os movimentos de cultura alternativos de Feira de Santana se viram perplexo com a demolição do espaço Senzala no campus da UEFS. Para os que não conhecem o espaço Senzala, Senzala foi o nome dado a um espaço abandonado no campus da UEFS e que foi ocupado por estudantes há pelo menos 20 anos. A liderança da Senzala é coletiva e gerida de forma democrática por todos os frequentadores: sejam estudantes, sejam professores, sejam membros da comunidade externa. Várias atividades culturais foram desenvolvidas na Senzala e muitas delas relatadas em espaços de comunicação de Feira de Santana, como o Blog da Feira.
A derrubada da Senzala dá mãos ao enterro de outras ações democráticas que foram estimuladas e apoiadas nos últimos anos na UEFS, tais como: a criação do orçamento participativo e o processo Estatuinte. Ambos sepultados pela atual gestão. Também não podemos esquecer da expulsão dos moradores da residência universitária em plena pandemia. Com um pretexto de reforma da casa que abriga a residência, os estudantes que ali estavam tiveram de sair. Vários estudantes em situação de vulnerabilidade, que não tinham uma casa para se abrigar durante a pandemia, foram obrigados a buscar a solidariedade de amigos e pessoas da comunidade.
Para os que perguntam quem representava a Senzala, não podemos esquecer que nos espaços coletivos a representação é feita por quem representa o coletivo. Na falta de um interlocutor direto, as representações estudantis e os Coletivos deveriam ser chamados para o diálogo pela Reitoria. Falar que não havia representantes é esvaziar essas representações.
A oportuna queda do telhado da Senzala, que serviu como desculpa da Reitoria para demolir um espaço intolerado por ela, é só um subterfúgio de uma visão higienista que prevalece nos espaços de poder. Ora reflete sobre a organização dos espaços públicos das cidades, ora reflete nos espaços coletivos das universidades.
A derrubada da Senzala não é só a derrubada de uma construção que abrigava um espaço alternativo de cultura, a derrubada da Senzala é a expressão da truculência e da falta de capacidade da Reitoria da UEFS em construir diálogos e agir de forma democrática. Não se pode normalizar a violência só porque ela é feita contra quem ou o que não concordarmos. A próxima vítima dessa violência pode ser qualquer um.
O grupo Uefs de Todos repudia toda e qualquer ação truculenta e antidemocrática.
Grupo UEFS de Todos.
15/11/2021″
Senzala da UEFS está no chão: “e assim morrem vários sonhos”