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Laila Geovana Beirão
sábado, 27 de agosto de 2022 / Publicado em Colunistas, Home

Afetos positivos e cuidado

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Fui convidada para participar da Semana de Integração dos Estudantes de Filosofia – Siefil 2022.2, da Universidade Estadual de Feira Santana (UEFS). O tema geral do evento foi “Em ato filosofia, em potência cuidado! ” Que buscou promover ao longo da semana do evento uma discussão sobre afetos e homenagem ao nosso amigo falecido Ramon Cedraz Rios. No dia 15/08, O evento aconteceu no auditório 5 do módulo 7, o diálogo foi sobre cuidado e deixarei aqui um trecho da minha fala.

A filósofa Angela Davis nos lembra que “A liberdade é uma luta constante”. Sendo assim, é necessário que a universidade e o curso de filosofia estejam para além da reflexão filosófica branco-eurocêntrica, mas para a liberdade da nossa humanidade e do nosso bem viver em comunidade.

O princípio filosófico africano Banto de filosofia UBUNTU significa “eu sou porque nós somos” porque vivemos em comunidade, isto deve estar presente no cotidiano das relações de cuidado e de afetos positivos. Aos que chegam, se tiverem encontros com o racismo, o machismo, a homofobia o elitismo, a vaidade e o ego acadêmico não percam a coragem e a alegria. Desejo a sabedoria das águas doces que desvia das pedras no rio para alcançar o desejado destino. Que as pedras e os obstáculos lhes proporcionem a intensidade da força e da beleza de uma cachoeira e que a filosofia não lhes tire a beleza do bem querer.

Aprendi com a grande escritora negra, brasileira, Carolina Maria de Jesus na sua obra: “Quarto de despejo diário de uma favelada” que eu sabia escrever, sim. Pois durante um tempo aqui, nesta academia eu acreditava que não sabia escrever. Mas, lendo a sua obra, quarto de Despejo, diário de uma favelada, onde ela denuncia a miséria, a fome e a necropolítica do Estado, que é possível escrever e pensar de maneira não colonizada e branco eurocêntrica. Frantz Fanon no livro Pele Negra, Mascaras Brancas nos alerta sobre o racismo da alienação intelectual e acadêmica “fui assediado por dezenas e centenas de páginas que tentaram impor a mim” (Fanon).

O professor filósofo Humberto Luiz Lima de Oliveira me ensinou que eu era livre para escrever e me proporcionou liberdade na escrita da monografia respeitando a minha autonomia de pensar.

O filósofo brasileiro Renato Noguera no livro “O ensino de filosofia e a Lei 10.639″ nos ilumina que é possível, necessário e ético o ensino da filosofia antirracista.

O professor e filósofo Emanoel Luiz Roque Soares na UFRB me encantou com a filosofia da Educação, em 2010 quando apresentou a turma de alunos que chegavam a qual eu fazia parte o Romance “A casa da água”. E nesta história a protagonista uma mulher negra, escravizada que consegue conquistar a liberdade e voltar para o país de origem no continente africano.  Sim, o movimento da filosofia e da literatura é lindo.

Semana passada no mestrado, a professora da disciplina Literatura e Resistência nos perguntou: – o que vocês entendem por resistência?

Respondi – Em uma sociedade racista e capitalista que nos quer mortos, estar vivo já é ato de resistência.

A escritora Conceição Evaristo no livro “Olhos D’ água” tem um capítulo que diz:

“A gente combinamos de não morrer.

A morte brinca com balas nos dedos gatilhos dos meninos. Dorvi se lembrou do combinado, o juramento feito em voz uníssona, gritando sob o pipocar dos tiros:

– A gente combinamos de não morrer! ” (Pág. 99)

A escritora moçambicana Paulina Chiziane, venceu o prêmio Camões este ano e em seu livro “O Canto dos escravos” tem um verso que diz:

“Não te demitas da Vida

No pior abismo abre a janela da esperança e te refresca

Nos momentos de depressão, para e olha para trás

Não te demitas da vida por te sentires no abismo

A solidão e a dor, incubam energias da nova aurora

Descobrirás que a vida é o melhor dom do mundo

Nunca te suicides, por favor, resiste, resiste sempre! (Chiziane, p. 108/109).

Luciene Nascimento, no livro: Tudo nela é de se amar” traz no poema Lucidez

“Quando me perguntam se estou bem, digo:

Estou bem

Dividida entre saber, me alimentar e lamentar

Sinto uma saudade estranha de saber um pouco menos

Ser aquele humano médio que passa sem se importar

O caminho da consciência é lugar

De desassossego,

e hoje a mais banal notícia já me tira do lugar

e a mente perturbada busca o aconchego lendo de Sueli Carneiro  a Morena Mariah…

A quem importa informar que a filosofia grega descende da africana?

A quem importa estudar cosmovisão Yorubá e refletir revolução Haitiana? …

O genocídio é como um monstro grande, cheio de tentáculos, e a certa altura um deles atinge você. “ (Nascimento p.115/116)

No livro necropolítica o filósofo Achille Mbembe descreve as diferentes formas de matar que o Estado utiliza para exterminar a população indesejada. “Na economia do biopoder, a função do racismo é regular a distribuição da morte e tornar possíveis as funções assassinas do Estado. Segundo Foucault, essa é “a condição para a aceitabilidade do fazer morrer” (p.18). O que Carolina de Jesus, escreveu e denunciou no livro Quarto de despejo é uma maneira do Estado deixar morrer a população.

Há um pensamento de Bertolt Brecht que também reforça essa compreensão e este poema foi uma das últimas atividades que eu e o amigo Ramon Cedraz Rios, o mais doce e sereno revolucionario, trabalhamos no PIBID – Programa de iniciação à docência, com os alunos do colégio Estadual Polivalente de Feira de Santana:

“Há muitas maneiras de matar uma pessoa. Cravando um punhal, tirando o pão, não tratando sua doença, condenando à miséria, fazendo trabalhar até arrebentar, impelindo ao suicídio, enviando para a guerra etc. Só a primeira é proibida em nosso Estado.”

Ramon Cedraz Rios, Presente!

A imagem que compõe esse texto é um desenho feito por Ramon.

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Laila Geovana Beirão
Laila Geovana Beirão
Professora de filosofia. Mulher negra, ativista contra o racismo e todo o tipo de violência e opressão. Estudo e escrevo para contribuir com a construção de uma sociedade justa, livre e de reconhecimento entre os seres humanos.
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