Ha coisas que a gente vê, mas não vê. Pois a verdade, como o diabo, está escondida nos detalhes. Quem há anos passa apressado pela avenida e vê o busto não vê o sorriso zombeteiro, dentes à mostra, do velho Getúlio Vargas. É fato que, ao contrário dos generais do golpe de 64, Getúlio foi mesmo sorridente. Mas o sorriso do busto, talvez pela rigidez do bronze, parece rir, sarcasticamente, de quem o olha de perto. Para agravar, uma pequena aranha teceu uma casa de fios espessos acima do olho direito da estátua, dando-lhe um semblante sorridente mas sinistro, como são todos os ditadores. Sem falar dos dentes cerrados. Quando ampliaram a avenida, esse busto desapareceu, sumiu, tomou doril. A insistência brincalhona do fotojornalista Reginaldo Tracajá, que à época assinava uma coluna no jornal “Folha do Norte”, fez a Prefeitura o resgatar do depósito dos imprestáveis. Não fosse isso, continuaria desaparecido como o do médico feirense Jackson do Amaury.
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