Mas no meu enterro toquem Oblivion, de Piazzolla. Um problema, eu sei. Difícil encontrar o músico para a música. Mas a morte é sempre um problema para os vivos e uma música talvez seja o menor de todos os dilemas para quem fica. Acho bom vocês atenderem esse desejo. Mas é problema, eu sei. Na Feira, quem toca Oblivion? a não ser refinados de salas requintadas, um ou outro argentino, um universalista vasqueiro, um humanista genérico…quem? quem?além do mais, um clássico como Oblivion é pura e ridícula pretensão de defunto pobre, e pobre…tem esquecimento, mas não música. E em Mossoró?…talvez Marcílio queira atender ao último pedido do antigo vizinho, mas como? não pode recorrer a Totonzinho e Seu Conjunto porque não existe mais, nem a Junior Benjamim que se esforçaria, sem medidas, para atender o desejo desse defunto, mas não há Oblivion em Mossoró , todos nós lembramos da São Vicente, o patamar vive na gente, ninguém esquece. Não há Oblivion, ninguém para tocar Oblivion. Então, não vou morrer agora.
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