As estagiárias, os guardas, todos os servidores do Museu o conheciam. Passava por lá quase todos os dias, numa visita metódica, terminando sempre na sala de exposição com o nome de Odorico Tavares e saindo apressadamente, como entrava. Quando trocavam as estagiárias, as novas eram avisadas pela turma cessante, do tal coroa assim e assado que vai chegar sussurrando um bom dia ou boa tarde, entrar apressado em uma das salas, e não precisa pedir a ele para assinar o livro de visitas, nem quando ele entrar, nem quando sair, mesmo que não tenha ninguém, ele só vem quando o Museu está vazio, o antipático ranzinza não troca duas palavras com a gente. Uma dessas estudantes, arguta, observou, e comentou, a predileção do visitante casmurro pelo acervo fixo do Museu, quando exposto, ele mais demorava na sala com o nome do jornalista dos Diários Associados, em contemplação, olhando, detidamente, uma a uma das obras de arte afixadas pelas paredes ou em suportes sobre o piso de madeira encerada. Mas o que ela não sabia, e não poderia saber, porque isso ela não via, era a paixão dele crescendo por dentro por uma específica: a fateira de Carybé. Essa lhe obsidiou, devorou os outros pensamentos, instigou seus instintos .Tão apaixonado ficou, que arquitetou a maneira de tirá-la dali, de sequestrá-la e libertá-la daquela prisão e dos olhares fúteis.
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