
Tatiana procurou no celular a única foto que existe de Dona Antonieta, não encontrou mas me garantiu que mandaria pelo ZAP. E mandou essa foto abaixo, Niêta com um galho de planta, escolhida a dedo, balançando e rezando sobre o corpo de uma pessoa na saleta de sua casinha em São João do Cazumbá. Foi feita em 2012, quando a conhecemos. Hoje quem mora nessa casinha apertada é uma neta dela. De estatura baixa, a neta lembra a avó, mas não parece ter o mesmo ânimo e empatia que a véinha tinha. Antonieta era uma mãe comunitária com a vocação peculiar de curar as pessoas tão carentes e afligidas: ela era a rezadeira, a benzedeira , a curandeira de São João do Cazumbá.
São João do Cazumbá é um local estigmatizado pela escravidão à qual suas origens estão ligadas. “A minha indagação sobre a família Cazumbá surgiu na tentativa de conhecer a origem do bairro denominado São João do Cazumbá, localizado na região do Centro Industrial do Subaé (CIS), entre Feira de Santana e São Gonçalo dos Campos”, diz Maria Cristina Machado de Carvalho, autora de “Os Cazumbá em São Gonçalo dos Campos (1870-1910)“, livro editado pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), onde ela conta, através de sucessivas gerações dessa família, o ambiente escravocrata da região de Feira de Santana.
“Duas comunidades negras me seduziram: São
João do Cazumbá, por ser uma comunidade urbana, localizada perto do bairro Tomba, ao sudoeste de Feira de Santana, no Centro
Industrial do Subaé (CIS), e Corredor dos Ferreiras, comunidade rural, localizada a 13 km da sede da cidade de São Gonçalo dos Campos,
a qual se formou na segunda metade do século XX, especificamente em 1969, através da expulsão dos descendentes da família Ferreira da fazenda Queimadas”.
Com a implantação do Centro Industrial a área do São João do Cazumbá ficou dentro do CIS, empurrando para um tipo de marginalidade urbana.
Em 1988 a Prefeitura construiu a Escola, reformada recentemente. Doze turmas do primeiro ao quinto ano, crianças e jovens dos 6 aos 14 anos.
Mas é a capela a construção mais antiga do lugar. Singela e simples, tem a frente voltada para a via principal de acesso ao núcleo, como dando as boas vindas a quem chega e abençoando a quem sai.
Não existem, ou ainda não foram descobertos, documentos canônicos sobre ela, segundo o pároco Elielson do Carmo, da Paróquia Santa Clara de Assis que abrange a capela do São João do Cazumbá. Mas o morador Josevando da Silva, o Vando, bisneto de João Pucino, não tem dúvidas de que seu bisavô foi um dos que possibilitaram a implantação da igreja. “Tem documento da nossa família que fala nela“, garante.
Fotos: Reginaldo Pereira e Arquivo BF
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