Quando desembarcaram da van, na calçada do Paço, ele fazia os últimos rabiscos no chão,com giz. O que está escrito? foi a pergunta que fizeram entre si, antes de fotografar, já que o autor da suposta frase não quis conversa, saiu apressado, tomando o rumo do Centro de Abastecimento, para onde eles também foram, em seguida, não em busca do anônimo escritor de calçada mas porque já estavam combinados de se encontrarem no Restaurante de Machado para jogar conversa fora e comida boa pra dentro. Feira é uma cidade indecifrável, filosofou um deles enquanto desciam a ladeira da rua Recife, de onde já se vê a fachada enferrujada do shopping popular. Mas Feira dá sinais e pistas em códigos e símbolos que a maioria de nós não entende, disse outro. É melhor olhar assim a cidade onde se vive do que focar apenas a densa realidade com suas trivialidades banais e por vezes até cruéis. Alguém arremata, quem escrevia ali, mais que um excluído, indigente ou louco, pode ser um profeta, avisando alguma coisa!, diz. Que não tem cerveja lá em Machado, e nós estamos descendo a ladeira do Recife em vão, riram todos. Que a grilagem em Feira vai parar, mais risadas, que a Artêmia Pires vai ser duplicada primeiro do que o Anel do Contorno, que Lucas da Feira vai ganhar um busto… Falando sério, aliviou um deles: vamos perguntar à Inteligência Artificial. Todos concordaram, já entrando nos becos que levam ao restaurante de Machado no velho Galpão das Farinhas. Depois foram chegando os outros, mais cervejas, tem carneiro cozido, porco…a Feira no centro da mesa, faltaram dois, os jornalistas Wilson Mário e Luiz Tito. E a IA não decifrou a frase.

