De acordo com essa tese, é saudável, para a democracia, que adversários políticos se revezem no comando de municípios, estados e países, para que a máquina pública não fique por muito tempo nas mãos de apenas um grupo.
Há casos em que esse argumento não convence, como, por exemplo, na eleição presidencial em curso nos Estados Unidos.O atual presidente, Barack Obama, do Partido Democrata, está cumprindo o segundo mandato. Ele sucedeu o republicano George W. Bush, que também cumpriu dois mandatos.
Se o Partido Republicano ganhar a eleição presidencial este ano, os estadunidenses terão como presidente o empresário Donald Trump, que desde as prévias do seu partido demonstra ser não apenas um péssimo candidato, mas também um ser humano desprezível.
Melhor, portanto – para todo o planeta, inclusive -, que não haja alternância de poder nos EUA, pelo menos não neste momento.
Percebe-se, portanto, que esse não é um argumento infalível, que se aplica a todos os casos. Em certas situações, a alternância é uma péssima saída.
No caso de Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia, a alternância de poder é um dos melhores argumentos contra a reeleição do atual prefeito.
José Ronaldo e seu grupo comandam o município há dezesseis anos. Eleito em 2000 pela primeira vez, Ronaldo assumiu a prefeitura de Feira em 2001, foi reeleito em 2004 e, em 2008, elegeu seu sucessor, Tarcízio Pimenta, que assumiu a prefeitura em 2009 e, ao contrário do que muitos pensavam, perdeu o apoio de Ronaldo e terminou sendo sabotado pelos “ronaldistas” que o cercavam.
Isso fez com que a eleição de 2012 fosse no mínimo peculiar: Tarcízio, que em 2008 contou com o apoio de Ronaldo, foi alvo de pesadas críticas do seu padrinho.
O pleito de 2012 terminou com uma eleição expressiva de José Ronaldo, que teve 66% dos votos. E, se as recentes pesquisas divulgadas pelo IBOPE estiverem corretas, Ronaldo será mais uma vez reeleito com larga vantagem sobre seus adversários.
Se isso acontecer, Feira de Santana será comandada pelos “ronaldistas” por pelo menos mais 4 anos. Somando os três mandatos de Ronaldo e o mandato de Tarcízio, ao fim de 2020 a nossa cidade terá sido administrada durante 20 anos por um único grupo político. E isso não é nada saudável para a nossa democracia, muito menos para o nosso município.
Há uma frase muito famosa do escritor português Eça de Queirós que diz o seguinte: “Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo”. Diante das diversas denúncias abafadas e nunca ou pouco apuradas sobre a administração de José Ronaldo, este é o melhor argumento que se pode utilizar contra a sua reeleição.
Mas, para quem não se contentar com apenas um argumento, há outros: Feira de Santana precisa de alguém que pense algo além de reformas de praças, asfaltamento de ruas e construção de viadutos. Alguém que esteja disposto a dialogar com a população sobre medidas a serem tomadas na cidade, em vez de simplesmente impô-las à sociedade.
Feira de Santana precisa de alguém que pense não apenas na classe média e alta, mas também nos menos favorecidos, sempre colocados em último plano por José Ronaldo – vai ver foi por isso que sabotaram Tarcízio…
Feira precisa de um novo prefeito com uma nova equipe trabalhando para a cidade. Temos agora quatro opções de mudança: Zé Neto, Jhonatas Monteiro, Angelo Almeida e Jairo Carneiro. Seria muito bom, para a nossa cidade, se um deles passasse para o segundo turno.
Se os feirenses que apoiaram a alternância de poder em 2014 no Brasil forem coerentes, José Ronaldo não será reeleito. E finalmente teremos a oportunidade, depois de dezesseis anos, de testar um novo grupo político pelos próximos quatro anos.
Rafael Rodrigues é escritor (autor de “O escritor premiado e outros contos”, publicado pela editora Multifoco). Tem contos publicados nas antologias “Tardes com anões”, publicada pela editora VentoLeste, e “O livro branco”, de contos inspirados em músicas dos Beatles, publicada pela editora Record.
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