por Batista Cruz*
O smartphone não tem espaço sob a sombra daquela árvore localizada na praça de Rodelas, exclusivamente frequentada por homens.
Não, lá não rola conversa que uma mulher não pode ouvir ou participar ou a participação feminina é proibida.
Sob aquela árvore o calor é amenizado, mesmo que o vento às vezes seja um tanto quente, e as conversas rolam todos os dias – pela manhã e à tarde.
Ao contrário dos ambientes frequentados por adeptos das novidades tecnológicas, naquele local ninguém tecla o smartphone.
Se bem que são poucos os frequentadores que manuseiam este colosso tecnológico.
Ouve-se as histórias, que não param de ser contadas – emenda-se uma na outra e tempo passa muito rapidamente. Se vacilar, o personagem de uma delas pode ser o desavisado. A oralidade vence com folga a tecnologia.
Cordeiro de Maria José, sempre brincalhão e dono de um repertório de causos de tão grande e diversificado time de personagens, provoca inveja e medo, diz que ao encontro diário pode-se chegar um a um.
“Mas para ir embora tem que ser todo mundo, porque o que sai se torna alvo da fofoca imediatamente”.
Deve ser por isso que estes encontros não tem hora para terminar.
O grupo conta que um prefeito, vítima constante da língua da assembleia popular, certa vez mandou que empregados da Prefeitura dessem um trato na copa da árvore. Fizeram com tanta vontade que pararam no tronco.
“Eles queriam mesmo era acabar com a reunião de todos os dias”, brinca um dos frequentadores. E quase conseguiram. Quase… O grupo mudou o ponto de reuniões para uma algaroba, em um canteiro próximo.
Passado alguns dias, a árvore inexplicavelmente começou a secar e morreu semanas depois.
Dizem que foi vitimada pela energia negativa que emanava em cada encontro.
Algum tempo depois, os galhos da árvore antiga cresceu e as reuniões voltaram ao espaço original.
As línguas continuam ferinas, falam de todos e de tudo – com respeito, claro.
Naquela árvore, os smartphones ficam nos bolsos. E os ouvidos bem abertos.
Batista Cruz é jornalista.