As eleições presidenciais na Polônia próximo domingo não são apenas sobre disputa política interna, mas sobre a opção civilizatória do Ocidente. O país é controlado desde 2015 pelo partido de extrema-direita Prawo i Sprawiedliwosc (PiS, Lei e Ordem, em português), que vem fazendo diversas reformas no judiciário e na constituição, esvaziando na prática os órgãos controladores de seu poder. Essas reformas enfrentam resistência da Comissão Europeia e o país responde a processos no Tribunal Europeu de Justiça por quebra da ordem democrática.
No plano internacional, o presidente candidato à reeleição, Andrzej Duda (foto), é um dos figurões da extrema-direita global: seus principais aliados ideológicos são o vizinho húngaro Viktor Orban, a contraparte estadunidense Donald Trump e, é claro, Jair Bolsonaro e seu chanceler Ernesto Araújo. Esse quarteto, entretanto, vê se avizinhando o espectro de seu fracasso.
Para além da óbvia desvantagem eleitoral de Donald Trump nos Estados Unidos e o esfacelamento efetivo do governo Bolsonaro no Brasil, o polonês Duda terá que suar para garantir mais 5 anos no poder. Isso porque, apesar de ter liderado com folga no primeiro turno, há uma coalização de forças que se organiza para a vitória do ex-prefeito liberal de Varsóvia, Rafal Trzaskowski.
Ano passado, o PiS viu sua força política declinar após perder cadeiras nas eleições legislativas, ainda que mantendo sua maioria. Agora ambos os candidatos aparecem empatados nas pesquisas (um raríssimo 50 X 50 figura no agregador de pesquisas politico.eu). Duda ainda é o favorito, o que pode ser explicado pelo excepcional desempenho do governo na economia e pela profusão de programas sociais (financiados em grande parte por vultuosos aportes dos fundos europeus). Mas o desgaste provocado por recentes protestos contra a campanha de perseguição anti-LGBTQ promovida pelo governo e pela mídia Estatal e os atritos com as instituições europeias podem incentivar as camadas urbanas liberais a irem às urnas.
O resultado das urnas será relevante não apenas para o país, mas para a própria estabilidade da União Europeia. Os governos ultraconservadores da Hungria e da Polônia são aliados próximos, o que impede que procedimentos contra violações de direitos nos dois países sigam adiante, já que as instituições europeias precisam da unanimidade para aplicar sanções mais severas a Estados-membros. Sem o apoio polonês, Orban, que recentemente adquiriu amplíssimos poderes sob a justificativa de combate à pandemia, se veria isolado no continente e as diversas acusações de quebra da ordem democrática teriam espaço para seguir adiante.
Em uma visão mais mais global, o elo europeu da espúria aliança da ultradireita seria severamente enfraquecido, sobretudo após o enfraquecimento do 5 Estrelas na Itália e a saída de Matteo Salvini do governo. Com a já provável derrota de Donald Trump, o ultraconservadorismo ficaria sem seu maior líder. É, sem dúvidas, um dos períodos de maior tensão para a extrema direita mundial – e a sua ala brasileira certamente está de olhos bem abertos.